...CINEMA
Opiniões #43 – Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The
Dark Knight Rises, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca
Com
este Batman – O Cavaleiro das Trevas
Ressurge, encerra-se a trilogia e visão de Christopher Nolan sobre o
personagem, iniciada em 2005 com Batman Begins e seqüenciada com Batman – O
Cavaleiro das Trevas lançado em 2008.
Nesta
derradeira história, oito anos se passaram e Bruce Wayne está “aposentado” do manto do herói e vive
recluso em sua mansão após os eventos finais do filme anterior. Porém uma ameaça
que promete trazer o caos à Gotham o obriga a trazer Batman novamente à ação.
Como
em suas outras obras, o cineasta entrega, mais uma vez, um cinema de
entretenimento de qualidade e com víes artístico. Mais do que centrar na ação
ele foca no drama, desenvolvimento e relacionamento entre os personagens. É impressionante
e admirável como em um filme de quase três horas de duração[1]
não há espaço para qualquer tipo de “barriga”. Toda cena, diálogo, personagem e/ou
objeto tem um porque dentro da trama e em algum momento isso se fará
perceptível. A ligação com os filmes anteriores é importante e muito bem
trabalhada.
Desde
o primeiro filme há o alerta que as escolhas que Bruce Wayne fez em sua
caminhada têm ou terão efeitos em sua vida, na de seus amigos ou na cidade que
jurou proteger. Seja na “escalada de vilões” que Gordon avisara ao fim do
primeiro filme e se mostrou visível no segundo com a força da natureza
personificada pelo Coringa[2] ou
aonde ela o levaria e de como terminaria de fato, nos diálogos de alerta da
figura paterna do Alfred.
Além da
responsabilidade e efeitos de seus atos toda a trilogia possui subtramas. Em Batman Begins a
subtrama era o medo. Já em
O Cavaleiro das Trevas era sobre escolhas e as suas
conseqüências. Já neste há a dor e sua superação como fio condutor.
Trata-se do episódio mais dramático e denso da
trilogia. Seja na gravidade e sensação de caos e pressa que a ameaça que ronda
Gotham representa. Seja na forma de como os relacionamentos antigos e novos vão
se desenvolvendo.
Nada disso
seria possível, contudo, sem um elenco competente. Mas a equipe de atores que
se formou em toda trilogia é quase que irretocável[3].
Os antigos intérpretes mantiveram a sua excelência e tiveram que dosa-los com
novos sentimentos e situações de seus personagens. Bale continua administrando
com maestria todas as nuances e psiques do protagonista. Michael Chaine brilha
com seu Alfred, aqui responsável pelos momentos e diálogos mais dramáticos.
Gary Oldman que há tempos merece uma prêmio por toda a sua carreira lida com
gosto de se ver com seu Comissário Gordon atormentado pela sua mentira. Somente
Morgan Freeman, que dispensa apresentações e elogios, não recebeu muitos novos
detalhes com seu Lucius Fox, mas continua o defendendo bem.
Já as novas
aquisições do elenco seguem a linha de excelência. Para começar Anne Hathaway afasta
toda e qualquer desconfiança da parcela do público que a considerava inapta
para o papel. Sua mulher-gato, mas do que apenas um fetiche ambulante é cheia
de variáveis psicológicas sendo uma pária social tal qual, e porque não, o
Batman. As cenas entre ela e o homem-morcego são muito interessantes e sempre
de alguma maneira os diálogos abordam esta ligação entre ambos.
Joseph
Gordon-Levit e Marion Cotiliard (que trabalharam com o diretor, no também,
brilhante A Origem) possuem
personagens que receberam pouco tratamento nos materiais de divulgação, mas são
de suma importância para a trama. Ambos se saem bem em sua tarefa.
Por fim e não
menos importante chegamos ao Bane de Tom Hardy, que, assim como Heath Ledger,
desaparece por detrás de seu vilão. Anárquico, metódico, dotado de um visual e
uma voz assustadores apresenta-se como o inimigo definitivo do herói. O arauto
do caos de Gotham é um adversário equivalente tanto mental como fisicamente.
O primeiro
embate entre ambos mostra isso claramente e é contundente o fato de nesta seqüência
não haver qualquer música ao fundo, tornando-a ainda mais dramática, visceral e
emblemática.
Além do
roteiro bem delineado e do elenco competente, os demais aspectos técnicos
seguem na linha da impecável execução. Os efeitos especiais continuam sendo
utilizados apenas e tão somente para o desenvolvimento da história. Continuam a
emular, o maximo possível, a visão realista que o diretor empregou ao Batman.
Neste aspceto,
deve ser destacada ainda a escala grandiosa das cenas de ação. Ainda não
empolgado com a tecnologia em 3D, Nolan prefere a filmagem com as câmeras
especiais próprias para a exibição em IMAX. Mesmo não sendo visto neste formato, é
perceptível esse toque. Os ávidos por cenas de ação, porém, podem se
decepcionar um pouco, pois estas são pontuais e não gratuitas.[4] O
que não é demérito nenhum diga-se de passagem.
Outro aspecto
digno de nota é quanto à trilha sonora. Criada por Hans Zimmer, á frente de
toda a trilogia[5] que de
forma triunfante ambienta todo o longa.
Mas a “cereja
do bolo” é a parte final do filme que encerra magistralmente não só o longa,
mas toda a trilogia de forma triunfal. E o mais importante orgânica e dentro de
todo o sentido proposto nesta visão sobre o personagem. É épica, dramática e emocional.
[6]
E assim é o
ato final dessa fase do Batman no cinema. A visão de Nolan e sua equipe termina
por aqui de forma marcante não só dentro do gênero mas na própria história do
cinema ante a sua visível qualidade. Outra equipe e sob outro enfoque
certamente em breve trarão o personagem de volta aos cinemas. Por enquanto
celebremos esse encerramento da forma como merece. Aos aplausos entusiasmados
ao fim da sessão.
Cotação: (5/5 - 9,5/10)
Ficha Técnica:
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, USA, 2012). Drama. Ação. Direção: Christopher
Nolan. Elenco: Christian Bale, Michale Caine, Anne Hathaway, Gary Oldman,Tom
Hardy, Marion Cotillard, Joseph Gordon-Leviit, Morgan Freeman. Duração: 164 min.
[1] Duas
horas e quarenta e cinco minutos para ser mais exato.
[2] Um “ser”
que “só queria ver as coisas queimarem” ,sem motivo lógico qualquer.
[3] Katie
Holmes em Batman Begins
foi a exceção.
[4] Também é
o filme que o herói aparece por menos tempo fantasiado.
[5] Que
dividiu a tarefa no primeiro filme com James Newton Howard.
[6] O último
diálogo entre Batman e Gordon chega a ser lírico.
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Especial Batman:
Quem está acompanhando o nosso "Especial Batman" está gostando e em breve teremos mais textos abordando as varías facetas do personagem em todas as mídias que já marcou presença. Ainda não conferiu? Basta acessar este link
Um dos pontos que mais me agradaram no filme foi esse movimento circular com temas abordados nos outros longas, Marlon.
ResponderExcluirDo simples ensinamento de um pai, repetido pelo tutor: "Porque caímos, Bruce?". Passando pela luta para alcançar a perfeição fisica. Coroando no diálogo final entre Batman e Gordon.
Foram momentos que compensaram toda a espera.
E são esses momentos que ficam na memória. Não o festival de ação gratuita (que não ocorre aqui, como o texto informa) venerado por Hollywood - Sim, ação é importante. Mas jamais deve ser o foco do filme.
Lendo seu artigo, muito bem escrito, até me esqueço que não gostei do filme! srsrsrrsr
ResponderExcluirGostei da relação final do Batman com o Gordon, gostei da atuação da Mulher gato, me surpreendi com o vilão final, mas achei muito esticado o roteiro e com uma sentimentalidade que não é inerente ao Bruce, muito menos ao Batman.
Sem a menor sombra de dúvida, "O cavaleiro das trevas" foi a melhor leitura do dilema do Batman, ser ou não ser!