sexta-feira, 23 de março de 2012

...CINEMA. Opiniões # 18- Jogos Vorazes


...CINEMA.
Opiniões #18-  Jogos Vorazes (The Hunger Games, USA, 2012)
Por Marlon Fonseca


  
           
Nova saga literária voltada a um público mais jovem, Jogos Vorazes chega aos cinemas para estabelecer-se também nesta mídia A trilogia escrita por Suzanne Collins encontra-se há mais de 160 semanas na lista dos mais vendidos do New York Times e possui milhares de fás em todo o mundo. E com o filme, com certeza novoss seguidores surgirão.

            Adaptação bastante fiel do primeiro livro da trilogia, Jogos Vorazes passa-se em um mudo pós-apocalíptico onde os Estados Unidos foram divididos em doze distritos. Anualmente, cada distrito tem que ceder um casal de jovens para a participação de um torneio. Nesta primeira parte da saga, acompanharemos o sacrifício, treinamento e participação da jovem Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) no torneio.

            Engana-se bastante quem, sem conhecer a obra, a encara como uma “literatura rasa adolescente”. A trama, tanto do livro como do filme, contém subtextos bastante interessantes e bem colocados com críticas contundentes á sociedade, principalmente na questão da utilização do entretenimento como forma de dominação das massas e seus efeitos nos participantes e espectadores. Sacrifício, lealdade e coragem também estão presentes.

           Palmas, portanto, para o diretor Gary Ross (que dirigiu Seabiscuit) que, ao lado da própria Suzanne Collins e mais dois roteiristas, mantiveram a essência da obra intacta, ainda que, por motivos óbvios[1], tenha havidos supressões ou algumas mudanças. Mas o importante é que ele foi feito com bastante cuidado, sem furos aparentes e conta a história de forma bastante competente e com diálogos acima da média.

          Na primeira parte do longa o espectador é apresentado ao mundo na qual a saga se insere. Seus personagens e suas relações, a forma de como o torneio é visto e “vendido”, bem como o treinamento e preparação da protagonista, seu companheiro de Distrito e demais participantes para o embate.

            É aqui, também, que começa a ser tratada de forma bastante competente o principal subtexto do filme. O torneio, claramente fora criado como forma de dominação, intimidação e alienação das massas. Algo, inclusive, que está muito longe de ser ficcional. Pode-se encarar os Jogos Vorazes como um misto de Realiy show e luta de gladiadores coisas comuns na nossa história e sociedade atual.

            Nesse caso, porém, não vemos os combatentes esfuziados e histéricos como num Big Brother ou gesticulando de forma heróica como supostamente era na época do Coliseu romano. O Resultado do sorteio que define os participantes traz aos escolhidos um responsabilidade e fardo recebidos com bastante pesar. Porém, curiosamente, eles são aconselhados e posarem exatamente como um misto de gladiadores e “pseudo celebridades” como os Brothers, para angariarem a simpatia do público e os indispensáveis “patrocinadores”.

            Passada esta irretocável primeira parte, chega com a segunda parte, enfim os jogos em si. E aqui a brutalidade física e emocional reina. Mesmo que o filme visivelmente tenta atenuar o tom para não pegar uma classificação etária maior, é chocante assistir jovens com idades entre 12 e 18 anos se caçando e matando brutalmente.

            Mesmo assim, a subtrama ainda se apresenta. Principalmente quando vemos os “bastidores” dos programas e as duas freqüentes artimanhas e manipulações para tornar o “espetáculo” mais “interessante”. Ainda há também a participação prática dos tais “patrocinadores” com o envio de remédios, alimentos aos combatentes “patrocinados”.[2] Há também a formação de alianças que diante da própria situação na qual se encontram já nascem frágeis, mesmo que algumas ainda sinceras.

            Além de tudo isso há logicamente uma inevitável história de romance, feita, também, com extrema competência. O triângulo amoroso é bastante palatável e longe do melodrama barato como em outra saga de sucesso recente. As motivações aqui são bem mais fortes[3] e fundadas das mais variadas formas.

            Por fim e muito longe de ser menos importante, resta o cuidado na escolha do formidável elenco. Jennifer Lawrence, a protagonista, já havia mostrado uma assombrosa maturidade interpretativa em seu difícil e forte papel em Inverno da Alma[4]. Quem a viu neste trabalho descobre que sua escolha para protagonizar a saga não foi em vão. O começo de Jogos Vorazes, inclusive, é situado em lugares e situações bastante parecidos como de seu trabalho anterior. Mas não achem que por isso ela aqui se repete. Não mesmo, pois ela vai além. Sua expressividade e força no olhar é algo extremamente raro. Talento e competência natos que se desenvolvem a cada trabalho. Sem dúvidas veio para ficar.

      Compondo o resto do elenco, temos um Josh Hutgherson correto que aparenta também amadurecimento e parece ter superado a perda do papel de Peter Parker em O Espetacular Homem-Aranha para Andrew Garfield.[5] Satanley tucci, Woody Harrelson, Lenny kravitz, Donald Sutherland e Toby Jones dignificam e qualificam o elenco de apoio.

               Assim, e sem dúvidas, tanto o fã e conhecedor da saga literária como o espectador que estará a conhecendo pela primeira vez, sairá extremamente satisfeito por ter visto um filme que diverte, interessa e é extremamente bem feito. A sorte de Jogos Vorazes já a está acompanhando e com certeza aumentará com os novos fãs que surgirão com o filme.


Cotação:  (4/5 - Muito Bom)

Ficha Técnica: Jogos Vorazes (The Hunger Games, USA, 2012). Ação, Drama e Romance. Direção: Gary Ross. Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Stanley Tucci, Donald Sutherland, Toby Jones. Duração: 144 min.


Agradecimentos: Como o autor não teve tempo hábil para a leitura do livro fez um “trabalho de campo” e pesquisou junto aos espectadores da sessão se o livro fora bem transportado para as telas. Todos foram unânimes em dizer que sim. O “Falando de...” agradece a vocês colaboradores anônimos para com a ajuda nesta “opinião”.


[1] Literatura e cinema são mídias diferentes e mudanças em adaptações de livros para cinema geralmente são necessárias. No caso, a permanência da essência da obra adaptada é que deve ser preservada.
[2] Ainda há espaço em meio ao caos para uma cena extremamente bela e sensível para relatar a morte de uma querida personagem.
 [3] Para quem não leu o livro fica a dúvida. O beijo em Peeta foi para salva-lo em razão do conteúdo de um bilhete de um patrocinador ou afeto verdadeiro?
[4] Filme no qual concorreu aos Oscar de melhor atriz em 2011. Ela também fez a jovem Mística em "X-Men: Primeira Classe" no ano passado.
[5] Sua visível ausência de carisma com certeza fora observado para o futuro que seu personagem aparenta carregar.