quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Opiniões #05 - J. Edgar


Opiniões # 05 – J. Edgar (J. Edgar, USA, 2011).
Por Marlon Fonseca



            A cinebiografia da figura polêmica, controversa e obscura de Jonh Edgar Roover era um projeto que há tempos circulava por Hollywood. Com toda a razão, pois a vida e trabalho do fundador e diretor do FBI (Federal Bureu of Investigation) é “cinematográfica” por natureza. O projeto ganhou força total quando Clint Eastwood e Leonardo Di Caprio se interessaram pelo projeto. Mesmo com esses dois talentosos e consagrados nomes encabeçando o projeto e com excelente elenco de apoio o resultado do filme é apenas regular.
           
            A história é contada na forma de memórias do próprio personagem, indo e vindo no tempo e foca-se não somente na criação do FBI como tem espaço para abordar seus relacionamentos com as três pessoas mais importantes da sua vida: sua fiel secretária (Naomi Watts), sua mãe (Judi Dench) e seu braço direito e companheiro Tolson (Armie Hammer).

            Como o próprio personagem declama em certo momento “A história do FBI e a minha se confundem” e o longa é competente no sentido de corroborar tal assertiva. Aos poucos vamos conhecendo os motivos e os atos que o puseram no comando da instituição por quase 50 anos, implementando modernas e revolucionarias (á época) medidas no auxílio de resolução de crimes como o uso de cientistas especializados para analisar as cenas do crime e a implementação do uso de impressão digital como forma de identificação.

            Seu jeito duro, obcecado na condução do Bureau não sofre atenuações, sendo, inclusive, mostrados momentos no qual ele utiliza-se de seus conhecimentos secretos para manter-se no cargo ou conseguir alguma benesse política.

            Já com relação aos seus relacionamentos, vemos a sua personalidade dividida pelo seu amor “edipiano” pela sua mãe e o seu relacionamento homo afetivo com seu braço direito. Oprimindo seus impulsos sexuais e seus sentimentos em razão da educação severa ministrada pela sua mãe, Hoover, oscila entre momentos de afeição e rejeição á Tolson, operando, inclusive, desajeitadas tentativas de se envolver com o sexo oposto.

            Leonardo Dicaprio entrega mais uma atuação competente e segura no papel do protagonista em todas as suas vertentes e fragilidades. Naomi Watts e Judi Dench que sempre entregaram bons trabalhos exprimem o respeito e fidelidade no caso da primeira e alternância de carinhos e rigidez no caso da segunda. Já Armie Hammer (que vem desde A Rede Social onde interpretou os gêmeos Winklevoss, sendo apontado como grande revelação) está bem como a parte mais sensível do relacionamento conturbado com Hoover.

            Os aspectos técnicos do filme vão de excelente a fraco o que prejudica o resultado final do filme. Apesar das idas e vindas temporais, o espectador não se sente confuso, mas o ritmo, porém é irregular. A fotografia injustificadamente escura também não agrada. Direção de arte e figurinos, porém, estão impecáveis como toda produção que passa pelas mais variadas épocas deve ser. Mas é na maquiagem que o filme peca: além de soar ao tempo todo superficial em alguns momentos chega a prejudicar a atuação do elenco.

            O fato de ser um filme centrado na história americana e feito para o público americano prejudica o longa no aspecto internacional. A história de Hoover e do FBI por confundir-se com a história e figuras americanas ao longo de décadas, pode tornar-se de difícil acompanhamento para quem não possui noção sobre o assunto.[1]
Assim, mesmo dirigido por um dos maiores diretores da atualidade e protagonizado por um dos maiores atores de sua geração, o filme nos apresenta a figura densa e conflituosa de Hoover apenas de forma satisfatória mesmo que possuindo algumas falhas que prejudicaram o resultado final do filme.


Cotação: 


Ficha Técnica: J. Edgar (J. Edgar, USA, 2011). Drama, Biografia. Direção: Clint Eastwood. Elenco: Leonardo Dicaprio, Arnie Hammer, Naomi Watts e Judi Dench. 137 min.


[1] As seis pessoas que abandonaram a sala de projeção ao longo do filme atestam tal fato.