Opiniões # 05 – J. Edgar (J. Edgar, USA, 2011).
Por Marlon Fonseca
A
cinebiografia da figura polêmica, controversa e obscura de Jonh Edgar Roover
era um projeto que há tempos circulava por Hollywood. Com toda a razão, pois a
vida e trabalho do fundador e diretor do FBI (Federal Bureu of Investigation) é “cinematográfica” por natureza. O
projeto ganhou força total quando Clint Eastwood e Leonardo Di Caprio se
interessaram pelo projeto. Mesmo com esses dois talentosos e consagrados nomes
encabeçando o projeto e com excelente elenco de apoio o resultado do filme é
apenas regular.
A
história é contada na forma de memórias do próprio personagem, indo e vindo no
tempo e foca-se não somente na criação do FBI como tem espaço para abordar seus
relacionamentos com as três pessoas mais importantes da sua vida: sua fiel
secretária (Naomi Watts), sua mãe (Judi Dench) e seu braço direito e
companheiro Tolson (Armie Hammer).
Como
o próprio personagem declama em certo momento “A história do FBI e a minha se
confundem” e o longa é competente no sentido de corroborar tal assertiva. Aos
poucos vamos conhecendo os motivos e os atos que o puseram no comando da
instituição por quase 50 anos, implementando modernas e revolucionarias (á época)
medidas no auxílio de resolução de crimes como o uso de cientistas
especializados para analisar as cenas do crime e a implementação do uso de
impressão digital como forma de identificação.
Seu
jeito duro, obcecado na condução do Bureau não sofre atenuações, sendo,
inclusive, mostrados momentos no qual ele utiliza-se de seus conhecimentos
secretos para manter-se no cargo ou conseguir alguma benesse política.
Já
com relação aos seus relacionamentos, vemos a sua personalidade dividida pelo
seu amor “edipiano” pela sua mãe e o seu relacionamento homo afetivo com seu
braço direito. Oprimindo seus impulsos sexuais e seus sentimentos em razão da
educação severa ministrada pela sua mãe, Hoover, oscila entre momentos de
afeição e rejeição á Tolson, operando, inclusive, desajeitadas tentativas de se
envolver com o sexo oposto.
Leonardo
Dicaprio entrega mais uma atuação competente e segura no papel do protagonista
em todas as suas vertentes e fragilidades. Naomi Watts e Judi Dench que sempre
entregaram bons trabalhos exprimem o respeito e fidelidade no caso da primeira
e alternância de carinhos e rigidez no caso da segunda. Já Armie Hammer (que
vem desde A Rede Social onde interpretou os gêmeos Winklevoss,
sendo apontado como grande revelação) está bem como a parte mais sensível do
relacionamento conturbado com Hoover.
Os
aspectos técnicos do filme vão de excelente a fraco o que prejudica o
resultado final do filme. Apesar das idas e vindas temporais, o espectador não
se sente confuso, mas o ritmo, porém é irregular. A fotografia injustificadamente
escura também não agrada. Direção de arte e figurinos, porém, estão impecáveis
como toda produção que passa pelas mais variadas épocas deve ser. Mas é na
maquiagem que o filme peca: além de soar ao tempo todo superficial em alguns
momentos chega a prejudicar a atuação do elenco.
O
fato de ser um filme centrado na história americana e feito para o público
americano prejudica o longa no aspecto internacional. A história de Hoover e do
FBI por confundir-se com a história e figuras americanas ao longo de décadas,
pode tornar-se de difícil acompanhamento para quem não possui noção sobre o
assunto.[1]
Assim, mesmo
dirigido por um dos maiores diretores da atualidade e protagonizado por um dos
maiores atores de sua geração, o filme nos apresenta a figura densa e
conflituosa de Hoover apenas de forma satisfatória mesmo que possuindo algumas
falhas que prejudicaram o resultado final do filme.
Cotação:
Ficha Técnica:
J. Edgar (J. Edgar, USA, 2011). Drama, Biografia. Direção: Clint Eastwood.
Elenco: Leonardo Dicaprio, Arnie Hammer, Naomi Watts e Judi Dench. 137 min.