quinta-feira, 19 de julho de 2012

...CINEMA. Opiniões # 41 - Valente


...CINEMA
Opiniões # 41 – Valente (Brave, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca



           
Em Valente, a mais nova animação da Pixar, conhecemos Merida. Dotada de longos cabelos ruivos, personalidade forte e muita determinação, vive o seu dia-a-dia comandado por mãos de ferro pela sua rígida mãe. Seus irmãos podem e fazem de tudo. Ela não, pois deve ser moldada a portar-se como a futura rainha que será. Descontente com a sua situação lutará para fazer valer a sua vontade e destino.

            O parágrafo acima resume bem a trama da animação. Mas quem conhece a Pixar já sabe que seu forte é a subtrama adulta que advém de seus filmes. É o seu “algo a mais”, seu diferencial. No sensacional Procurando Nemo, por exemplo, temos a subtrama da paternidade responsável e no lírico Wall-E, além de uma bela história de amor, há um recado ao consumismo exagerado.

       A Pixar sempre soube equilibrar bem em seus filmes seus aspectos cômicos e suas tramas mais adultas. Despertando emoções diferenciadas entre as plateias adultos e mais jovens e, assim, os agradar por igual. Curiosamente, desta vez, há um desequilíbrio, pois Valente é uma das animações mais maduras já realizadas no cinema.

            Desta vez o estúdio de animação vai ainda mais além e faz da sua subtrama ainda mais contundente. Trata-se de um filme sobre a emancipação da mulher, a necessidade de luta para moldar o seu destino e da importância da utilização do diálogo para a resolução de todo e qualquer problema. Para tanto, ao invés de jogar tais temas com diálogo fáceis e auto-explicativos, utiliza-se do expediente de inteligentes e muito bem implementadas metáforas e alegorias.[1]

A relação entre mãe e filha, o fio condutor de todo o filme, é extremamente bem realizada. Tão iguais e tão diferentes, com vontade conflitantes e bastante orgulhosas as duas são incapazes de travar um diálogo para a tentativa de resolução de seus problemas. Uma tentando impor vontade sobre a outra. Somente após um ato impensado e de forte egoísmo da moça, há uma inversão de papéis, muito bem sacada, diga-se de passagem, que pode finalmente aproxima-las.

Há ainda sim espaço para as cenas cômicas, principalmente vindas dos carismáticos pai e irmãos da moça e cenas de ação. Mas seu forte mesmo é a forma de como apresenta a sua história e a construção, desconstrução e reconstrução dos relacionamentos. E dessa vez, com certeza, será uma animação que agradará mais aos adultos.     

Nos aspectos técnicos a animação é visualmente deslumbrante e competente como sempre. A trilha sonora com toques de gaita constrói bem o clima nórdico do filme. As seqüências de cantoria, porém são desnecessárias e as musicas pouco marcantes.

            Valente, assim, á um passo á frente na maturidade ao tratamento de uma trama em um longa de animação. A execução impecável e o tratamento dado a sua trama é digna de aplausos. Tal fato irá tirar um pouco de sua magia para o público mais jovem, mas é uma pérola a ser apreciada pelos adultos.

            Cotação: (4/5)

            Ficha técnica: Valente (Brave, USA, 2012). Animação. Direção: Mark Andrews, Brendan chapman e Steve Purcell.  Com as vozes originais de: Kelly Macdonald, Billy Connoly, Emma Thompson, Julie Walters. Duração: 100 min.

           

Obs: As animações da Pixar já foram objeto de apreciação no Cenas de Cinema #5. Não leram ainda? Então fiquem á vontade: http://blogdofalandode.blogspot.com.br/2012/01/cenas-de-cinema-5-animacoes-da-pixar.html


[1] Sem querer estragar a surpresa, mas reparem nas questões relativas à tapeçaria e aos pontos de luz, por exemplo.