...CINEMA
Opiniões # 41 – Valente (Brave, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca
Em Valente, a mais nova animação da Pixar,
conhecemos Merida. Dotada de longos cabelos ruivos, personalidade forte e muita
determinação, vive o seu dia-a-dia comandado por mãos de ferro pela sua rígida
mãe. Seus irmãos podem e fazem de tudo. Ela não, pois deve ser moldada a
portar-se como a futura rainha que será. Descontente com a sua situação lutará
para fazer valer a sua vontade e destino.
O
parágrafo acima resume bem a trama da animação. Mas quem conhece a Pixar já
sabe que seu forte é a subtrama adulta que advém de seus filmes. É o seu “algo
a mais”, seu diferencial. No sensacional Procurando
Nemo, por exemplo, temos a subtrama da paternidade responsável e no lírico Wall-E, além de uma bela história de
amor, há um recado ao consumismo exagerado.
A Pixar sempre soube equilibrar bem em seus filmes seus aspectos cômicos e suas tramas mais adultas. Despertando emoções diferenciadas entre as plateias adultos e mais jovens e, assim, os agradar por igual. Curiosamente, desta vez, há um desequilíbrio, pois Valente é uma das animações mais maduras já realizadas no cinema.
Desta vez o estúdio de animação vai ainda mais além e faz da sua subtrama ainda
mais contundente. Trata-se de um filme sobre a emancipação da mulher, a
necessidade de luta para moldar o seu destino e da importância da utilização do
diálogo para a resolução de todo e qualquer problema. Para tanto, ao invés de
jogar tais temas com diálogo fáceis e auto-explicativos, utiliza-se do
expediente de inteligentes e muito bem implementadas metáforas e alegorias.[1]
A relação
entre mãe e filha, o fio condutor de todo o filme, é extremamente bem
realizada. Tão iguais e tão diferentes, com vontade conflitantes e bastante
orgulhosas as duas são incapazes de travar um diálogo para a tentativa de resolução
de seus problemas. Uma tentando impor vontade sobre a outra. Somente após um
ato impensado e de forte egoísmo da moça, há uma inversão de papéis, muito bem
sacada, diga-se de passagem, que pode finalmente aproxima-las.
Há ainda sim
espaço para as cenas cômicas, principalmente vindas dos carismáticos pai e
irmãos da moça e cenas de ação. Mas seu forte mesmo é a forma de como apresenta
a sua história e a construção, desconstrução e reconstrução dos
relacionamentos. E dessa vez, com certeza, será uma animação que agradará mais
aos adultos.
Nos aspectos
técnicos a animação é visualmente deslumbrante e competente como sempre. A
trilha sonora com toques de gaita constrói bem o clima nórdico do filme. As
seqüências de cantoria, porém são desnecessárias e as musicas pouco marcantes.
Valente, assim, á um passo á frente na
maturidade ao tratamento de uma trama em um longa de animação. A execução
impecável e o tratamento dado a sua trama é digna de aplausos. Tal fato irá
tirar um pouco de sua magia para o público mais jovem, mas é uma pérola a ser
apreciada pelos adultos.
Cotação: (4/5)
Ficha
técnica: Valente (Brave, USA, 2012). Animação. Direção: Mark Andrews, Brendan chapman e Steve
Purcell. Com as vozes originais de:
Kelly Macdonald, Billy Connoly, Emma Thompson, Julie Walters. Duração: 100 min.
Obs: As animações da Pixar já
foram objeto de apreciação no Cenas de
Cinema #5. Não leram ainda? Então fiquem á vontade: http://blogdofalandode.blogspot.com.br/2012/01/cenas-de-cinema-5-animacoes-da-pixar.html
[1] Sem
querer estragar a surpresa, mas reparem nas questões relativas à tapeçaria e
aos pontos de luz, por exemplo.