sábado, 4 de fevereiro de 2012

Opiniões #06 - Filha do Mal


Opiniões # 06 –Filha do Mal (USA, 2012)
Por Marlon Fonseca



            Filha do Mal é mais um filme de terror a utilizar a estrutura de “falso documentário” e mais uma tentativa de assustar as platéias com o tema “exorcismo”. São por esses dois primas que o filme deve ser analisado.

            Quando a adaptação ás telas do livro “O Exorcista” chegou aos cinemas em 1973 a platéia não somente se deparou com um dos filmes mais assustadores de todos os tempos (e o é até hoje) como com um dos temas mais espinhosos: o da possessão demoníaca sob a visão do dogma católica.

            Após desastrosas continuações do longa o tema passou a ser relegado a filmes de terror de baixo orçamento e pouco conhecidos do público por bastante tempo. Após notícias de que o Vaticano possuía um manual contendo os ritos para se detectar uma possível possessão e os rituais a serem seguidos em uma sessão de exorcismo[1] e de que mantinha um curso sobre o tema para seus padres o interesse pelo assunto revigorou-se e novas produções vêm surgindo ao longo dos anos.

            Em o Exorcismo de Emily Rose faz-se um interessante debate entre ciência e religião num misto de filme de terror e drama de tribunal deixando o espectador interpretar os acontecimentos da forma que melhor entender. Em O Último Exorcista (primeira incursão do assunto no estilo “falso documentário”) somos apresentados a um pastor assumidamente charlatão que ganhou a vida realizando falsos rituais e que se depara com uma situação real e fora de seu controle. Já em ”O Ritual”, o foco é no já citado curso que o Vaticano oferece aos futuros padres exorcistas.

            Filha do Mal aborda de uma forma ou outra todos os temas acima mencionados ao narrar a história de uma jovem mulher (a brasileira Fernanda Andrade) que descobre que sua mãe que se encontra em internada em um hospício em Roma após assassinar três pessoas, o fez em meio a um ritual de exorcismo. Como parte de sua investigação do ocorrido, decide presenciar e documentar um exorcismo de verdade com a ajuda de um jovem cineasta e de dois jovens padres que praticam exorcismos sem o consentimento da Igreja. A situação, logicamente, foge do controle.

            Em sua primeira metade o longa chega a ser interessante ao mostrar o curso de Exorcismo do Vaticano e a apresentar certos momentos de tensão como no reencontro entre mãe e filha no hospício e na primeira e “nervosa” sessão de exorcismo presenciada pela jovem. Chega, inclusive, a tentar desenvolver seus personagens, principalmente a dupla de Padres que ajudam a protagonista (seriam eles movidos pela fé, por ideologia ou pelo ego?). Mas vai perdendo o ritmo, a identidade, temas aparentemente importantes são largadas pelo caminho[2], apresentando uma sucessão de situações apressadas até chegar a um final risível que compromete todo o trabalho.

            Conforme já falado, o estilo adotado pelo filme, o de “falso documentário” vem sendo cada vez mais utilizado no cinema e expandindo os temas além do terror.  Estilo este que se popularizou com o lançamento de “A Bruxa de Blair” e revigorou-se com “Cloverfield-Monstro” e a franquia “Atividade Paranormal”. Os realizadores desse tipo de produção, inclusive, parecem ter tirado do primeiro, algumas “regras” ou uma espécie de “cartilha” sobre como se deve realizar filmes desta espécie: atores desconhecidos do grade público, câmeras e angulações simples para o dar o ar de “vídeo amador” e o principal e pior: final corrido e abrupto. Tudo para dar (ou tentar dar) uma sensação maior de “veracidade”.

            Essa “Cartilha” se bem utilizada de fato ajuda na concepção no clima deste tipo de filme. Porém, é sempre gratificante quando se tenta expandir essas “regras” conforme visto em Cloverfield, REC e em O Caçador de Troll.

            O último item da cartilha, o do final abrupto, aliás, foi o responsável pelo pior momento do filme. A forma de como ele acaba só pode gerar dois efeitos ao público: a risada debochada ou a raiva pela besteira recém assistida. [3]

            Assim se o filme inicialmente apresenta-se e porta-se como um trabalho aparentemente sério, em seu decorrer se auto sabota por esquecer-se de continuar com o clima e fluidez estabelecidos optando por soluções fáceis, situações ridículas e um final de dar pena... do espectador.


Cotação: 


Ficha técnica: Filha do Mal (The Devil Inside, USA, 2012). Terror. Direção: Willian Brent Bell. Elenco: Fernanda Andrade, Simon Quarterman e Evan Helmuth. duração: 83 min.


[1] Esse manual inclusive foi publicado e pode ser encontrado nas livrarias.
[2] O tal “conecte os cortes” tão alarmado no trailer e que tanto nele como no filme deixa a impressão de que seria de importância para a resolução do “mistério” simplesmente é ignorado no decorrer do longa.
[3] A platéia, como bom termômetro que é, geralmente fica com a primeira opção.