sábado, 28 de janeiro de 2012

Opiniões #4 - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres


Opiniões #4 – Millenium- Os Homens que não amavam as mulheres (The Gilr With The Dragon Tatoo, 2011).


 Stieg Larsson através da sua trilogia literária Millenium criou tramas e personagens interessantíssimos que tornaram as suas obras Best-seller´s internacionais. Uma pena que o Autor sueco faleceu antes de ver seus livros se tornarem sucessos e gerarem ótimos filmes.

Para quem ainda não sabe a trilogia composta por esse “Os Homens que não amavam as mulheres” e ainda “A menina que brincava com fogos” e “A Rainha do Castelo do ar” já foi lançada em sua totalidade na Suécia.

A trama mistériosa e investigativa ambientada na Suécia, precedida de uma bela abertura, nos apresenta a Mikael Blonkvist jornalista investigativo da revista Millenium do título que após ter a sua credibilidade e finanças abaladas por um processo de calúnia se ver obrigado a aceitar o convite do milionário Henrik Wenger para investigar o desaparecimento de sua sobrinha no seio de sua misteriosa e obscura família.

Paralelamente passamos a conhecer a hacker e investigadora Lisbeth Salander, uma jovem brilhante e misteriosa que carrega um passado traumático que tem que lidar com seu novo tutor e que mais tarde se vê ela mesma envolvida com Mikael e sua investigação.

Para esse remake e adaptação americanas, fora convocado o excelente diretor David Fincher habituado a trabalhar com temas, personagens e fotografia sombrios (conforme visto em Alien 3, Seven, Clube da Luta e Zodíaco). Fincher mais uma vez mostra toda a sua competência ainda que atuando de forma mais convencional do que o seu habitual.

            O elenco, de primeira linha, defende seus personagens com maestria. Para quem só conhece o Daniel Craig cínico, agressivo e letal de suas recentes encarnações de James Bond, se gratificará com um Mikael Blonkvitst honesto, idealista, porém egocêntrico e frágil. Cristopher Plummer traz toda sua elegância e talento para o patriarca da família Wenger e empresário bem sucedido sendo simpático e incisivo quando preciso: características necessárias a qualquer homem na sua posição. Encabeçando o resto do núcleo da misteriosa família, Stellan Skarsgård brilha no pouco tempo que tem em tela.

Mas a tarefa mais difícil, sem sombra de dúvidas recaiu sobre Rooney Mara. O papel de Lisbeth Salander, uma das personagens mais marcantes e fascinantes dos últimos tempos, foi disputado por várias atrizes do mundo todo e já havia sido encarnado com extrema competência por Noomi Rapace na trilogia Sueca. Mara entrega uma composição arrebatadora sobre a complexa personagem. Apesar de sua aparente fragilidade física em razão de sua magreza excessiva, ombros curvados e falas curtas a personagem apresenta momentos de agressividade tanto visual (com seus piercings, penteados, tatuagens, roupas escuras) como verbal e gestual (atitudes, olhares), dando espaço ainda a raros momentos de demonstração de carinho (principalmente ao seu antigo e enfermo tutor). [1]

A espetacular fotografia de Jeff Cronenweth (e indicada ao Oscar desse ano) ajuda com extrema competência a compor o clima sombrio do longa auxiliada, ainda pela mixagem e edição de som (também indicados ao Oscar) com o uivo do vento e o barulho do mar substituindo a trilha sonora para caracterizar o clima de solidão e perigo que cercam a dupla de investigadores. A trama e a investigação são tratadas de forma meticulosa, sem pressa, mas nunca de forma aborrecida e a montagem (mais um aspecto técnico indicado ao Oscar) auxilia na ótima fluidez do filme.

            Esse misto de remake e adaptação apresenta-se superior e mais completo ao filme original sueco e fiel ao livro mesmo com as mudanças apresentadas. As principais mudanças não afetam o longa como a forma que Lisbeth e Mikael se conhecem e a cena final do filme. Esta, entretanto, gerará mudanças significativas entre a relação dos protagonistas nos próximos longas.

            Importante destacar, também, a fidelidade e a manutenção das fortes e realistas cenas de sexo e violência mostrando respeito ao material e ao público alvo da série por parte dos seus realizadores.

            A longa duração do filme, os temas sombrios e as cenas mais fortes podem assustar uma parcela do público, mas quem já conhece a obra ou deseja conhece-la assistirá a um filme de suspense investigativo como há tempos não se via.

            Maduro, sombrio, misterioso, com personagens marcantes e bem trabalhados Os Homens que não amavam as mulheres é um ótimo filme e Lisbeth Salander merece ser conhecida e apreciada pelo público.


Cotação: 

Ficha Técnica: Millenium – Os Homens que não amavam as mulheres (EUA, Suécia, 2011). Thriller, Suspense. Direção: David Fincher. Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård, Robin Wright. Durção: 158 min)








[1] Sua postura auto-defensiva também é demonstrada das mais variadas formas sendo a mais curiosa quando indagada há quanto tempo havia se alimentado responde que é magra em razão de seu metabolismo e surpreende-se ao saber que o autor da pergunta não tinha o objetivo de criticá-la.