Opiniões #4 – Millenium- Os Homens que não amavam as
mulheres (The Gilr With The Dragon Tatoo,
2011).
Stieg Larsson através da sua trilogia
literária Millenium criou tramas e personagens interessantíssimos que tornaram
as suas obras Best-seller´s internacionais.
Uma pena que o Autor sueco faleceu antes de ver seus livros se tornarem
sucessos e gerarem ótimos filmes.
Para quem
ainda não sabe a trilogia composta por esse “Os Homens que não amavam as
mulheres” e ainda “A menina que brincava com fogos” e “A Rainha do Castelo do
ar” já foi lançada em sua totalidade na Suécia.
A trama
mistériosa e investigativa ambientada na Suécia, precedida de uma bela abertura,
nos apresenta a Mikael Blonkvist jornalista investigativo da revista Millenium do título que após ter a sua
credibilidade e finanças abaladas por um processo de calúnia se ver obrigado a
aceitar o convite do milionário Henrik Wenger para investigar o desaparecimento
de sua sobrinha no seio de sua misteriosa e obscura família.
Paralelamente
passamos a conhecer a hacker e investigadora Lisbeth Salander, uma jovem
brilhante e misteriosa que carrega um passado traumático que tem que lidar com
seu novo tutor e que mais tarde se vê ela mesma envolvida com Mikael e sua
investigação.
Para esse remake e adaptação americanas, fora
convocado o excelente diretor David Fincher habituado a trabalhar com temas,
personagens e fotografia sombrios (conforme visto em Alien 3, Seven, Clube da Luta e Zodíaco). Fincher mais uma vez mostra toda a sua competência ainda
que atuando de forma mais convencional do que o seu habitual.
O
elenco, de primeira linha, defende seus personagens com maestria. Para quem só
conhece o Daniel Craig cínico, agressivo e letal de suas recentes encarnações
de James Bond, se gratificará com um Mikael Blonkvitst honesto, idealista,
porém egocêntrico e frágil. Cristopher Plummer traz toda sua elegância e
talento para o patriarca da família Wenger e empresário bem sucedido sendo
simpático e incisivo quando preciso: características necessárias a qualquer
homem na sua posição. Encabeçando o resto do núcleo da misteriosa família, Stellan
Skarsgård brilha no pouco tempo que tem em tela.
Mas a tarefa
mais difícil, sem sombra de dúvidas recaiu sobre Rooney Mara. O papel de
Lisbeth Salander, uma das personagens mais marcantes e fascinantes dos últimos
tempos, foi disputado por várias atrizes do mundo todo e já havia sido
encarnado com extrema competência por Noomi Rapace na trilogia Sueca. Mara
entrega uma composição arrebatadora sobre a complexa personagem. Apesar de sua
aparente fragilidade física em razão de sua magreza excessiva, ombros curvados
e falas curtas a personagem apresenta momentos de agressividade tanto visual
(com seus piercings, penteados, tatuagens, roupas escuras) como verbal e
gestual (atitudes, olhares), dando espaço ainda a raros momentos de demonstração
de carinho (principalmente ao seu antigo e enfermo tutor). [1]
A espetacular
fotografia de Jeff Cronenweth (e indicada ao
Oscar desse ano) ajuda com extrema competência a compor o clima sombrio do
longa auxiliada, ainda pela mixagem e edição de som (também indicados ao Oscar)
com o uivo do vento e o barulho do mar substituindo a trilha sonora para
caracterizar o clima de solidão e perigo que cercam a dupla de investigadores.
A trama e a investigação são tratadas de forma meticulosa, sem pressa, mas
nunca de forma aborrecida e a montagem (mais um aspecto técnico indicado ao Oscar)
auxilia na ótima fluidez do filme.
Esse
misto de remake e adaptação
apresenta-se superior e mais completo ao filme original sueco e fiel ao livro
mesmo com as mudanças apresentadas. As principais mudanças não afetam o longa
como a forma que Lisbeth e Mikael se conhecem e a cena final do filme. Esta,
entretanto, gerará mudanças significativas entre a relação dos protagonistas
nos próximos longas.
Importante
destacar, também, a fidelidade e a manutenção das fortes e realistas cenas de
sexo e violência mostrando respeito ao material e ao público alvo da série por
parte dos seus realizadores.
A
longa duração do filme, os temas sombrios e as cenas mais fortes podem assustar
uma parcela do público, mas quem já conhece a obra ou deseja conhece-la
assistirá a um filme de suspense investigativo como há tempos não se via.
Maduro,
sombrio, misterioso, com personagens marcantes e bem trabalhados Os Homens que não amavam as mulheres é um
ótimo filme e Lisbeth Salander merece ser conhecida e apreciada pelo
público.
Cotação:
Ficha Técnica: Millenium – Os
Homens que não amavam as mulheres (EUA, Suécia, 2011). Thriller, Suspense. Direção: David
Fincher. Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan
Skarsgård, Robin Wright. Durção: 158 min)
[1] Sua
postura auto-defensiva também é demonstrada das mais variadas formas sendo a
mais curiosa quando indagada há quanto tempo havia se alimentado responde que é
magra em razão de seu metabolismo e surpreende-se ao saber que o autor da
pergunta não tinha o objetivo de criticá-la.