domingo, 29 de outubro de 2017

Crítica: Cuphead


      Uma obra apaixonada e apaixonante oriunda da mente e mãos de dois criadores canadenses que não desistiram de seu sonho, Cuphead, é uma reunião rara de estilo visual e sonoro e desafio. Não é exagero em já começar afirmando seu caráter único e marcante.




A inspiração.
          Quase tudo no game é fruto da inspiração nas animações da década de 30 e suas características que hoje podem soar bastante peculiares. Esse período é conhecido como a era de ouro da animação americana.
            Eram tempos onde os desenhos eram totalmente feitos à mão com técnicas envolvendo pincéis, tinturas à base de água, dentre outras. Porém, o mais importante residia em certa malícia que essas animações continham. Foi ali que surgiram Betty Boop, personagem que causou estardalhaço pela sua sensualidade, Félix o gato, Mickey Mouse, produções dos irmãos Fleischer e o começo da Disney, com temáticas nem tão inocentes.
          Outro aspecto marcante nessas obras é que tudo podia conter vida: animais, objetos, etc. E, por fim, as expressões faciais dos personagens bastante vívidas e muitas vezes também com viés não tão simpáticos.
            Vejam aqui um exemplo

          O game transpira esses elementos e traz referências desde sutis até bastante declaradas. Podemos exemplificar começando pelo personagem título. O Cuphead tem a estrutura e corpo similares á do Mickey. Existe um boss que lembra Tom e Jerry e outra que tem as feições da Betty Boop.
           Os demais elementos falaremos a seguir.
O jogo em si.
          Seguindo a linha do politicamente incorreto, na história temos os irmãos Cuphead e Mugman que, após perderem uma aposta no cassino, tem suas almas nas mãos de Satan. Para reavê-las concordam em fazer alguns "servicinhos" para o rei do inferno: exterminar alguns indivíduos e coletar suas almas.

Os irmãos se metem em uma confusão dos infernos
          Trata-se de um game com elementos de plataforma e run e gun com estrutura de um boss rush, ou seja, suas fases consistem “basicamente” em batalhas contra os chefes.
         Paralelas á estas existem 6 fases espalhadas pelos mundos que lembram os jogos de tiro e plataforma da década de 80. Elas não são obrigatórias para finalizar a aventura, porém imprescindíveis pois são nelas que residem moedas que são utilizadas para aquisição de itens e novas formas de tiro.
          Ainda existem 3 fases de mausoléus que vencidas liberam golpes especiais que também são importantes para o sucesso da empreitada.

          Tudo isso está presente em um sistema de mapas com 3 ilhas e uma final.
          Cada chefe contém de 3 a 5 formas e/ou padrões de ataques. E é ai que reside a já famosa dificuldade do jogo. O jogador deve aprender e se adaptar a cada uma dessas formas. É um sistema de progressão onde ele vai melhorando a cada repetição da batalha. Ou seja, morrer para aprender faz parte da mecânica do jogo.
        Trata-se, sim de um game bastante desafiante, mas uma dificuldade justa dentro de um sistema que faz o gamer aprender com os erros, criar estratégias, adaptar-se aos perigos. A cada vitória a sensação é inebriante.
As fases run e gun servem para coletar moedas.

         Os bosses possuem ataques diferenciados entre eles, portanto o ciclo ir para o chefe, conhecer suas mecânicas aos poucos, mata-lo e recomeçar com o próximo é constante. Cada um é único seja em seus perigos ou em suas características, inovando e renovando o desafio constantemente.
          Mas o que salta aos olhos de cara no game é seu estilo artístico. É justo afirmar que temos em Cuphead o mais próximo que já se chegou de uma “animação jogada”.
         Seguindo a linha de suas fontes e inspirações citadas acima, temos personagens extremamente bem animados e expressivos. Além disso, ele emula bem a sensação de estar se assistindo/jogando uma animação “antiga” pois ele brinca trazendo um filtro envelhecido.

Inimigos marcantes e expressivos

      Os inimigos apresentam visual bastante diferenciado e personalidade identificável justamente pela sua imagem. Aliado ao quesito dificuldade e seguindo a linha da década de 30 tudo é perigoso e mortalmente belo no mundo de Cuphead.
        Os cenários também são muito bonitos e, mesmo diante do caos que se apresenta em tela, é bacana olhar cada detalhe, efeitos, etc.
          Para isso, seus criadores desenharam à mão todo um jogo em um processo que demorou sete anos. Para isso eles usaram as mesmas técnicas da época.

A beleza caótica do jogo é um de seus muitos trunfos

       Ainda dentro do caráter de beleza artística a trilha sonora é magnífica. Basicamente em tom de jazz ela foi criada exclusivamente para a aventura. Além disso, os efeitos sonoros também lembram animações clássicas. Nas batalhas contra os bosses alguns sons servem como dicas de um potencial ataque.
       Já a jogabilidade é relativamente simples e fácil de dominar. Cuphead e Mugman têm como movimentos pulo, tiro, dash, especial e o sistema de parry. Este último é, inclusive, a única parte problemática nesse aspecto. Ele é bastante inconstante sendo comum  não funcionar em dados momentos o que é perigoso pois um erro no jogo é fatal.
Cada batalha se diferencia da outra resultando em um desafio constante e renovado

Conclusão
        Bonito, mortal, mas sobretudo, inventivo e cativante. Cuphead se mostrou uma obra de arte. Fruto da dedicação, imaginação e criação de seus idealizadores ele traz aquele frescor e caráter único que fica difícil de se ver hoje em dia.
     Imediatamente o jogo cativou o mundo gamer, torando-se até mesmo, ícone da cultura pop. Já é certo toma-lo como um dos melhores do ano e dessa geração. E quem passou por ele provavelmente afirmará que o marcará por toda a vida.

Nota: 9, 5
Pontos positivos: 
-Visual Deslumbrante
-Trilha sonora magnífica
-Desafio justo e envolvente
-Natureza única do jogo

Pontos negativos:
-Sistema de parry inconstante

Ficha técnica: Cuphead (Xbox One/PC)
Produtora: MDHR
Lançamento: 29 de Setembro de 2017