domingo, 3 de junho de 2012

...CINEMA. Adaptações (parte 1). Dos livros para as telas.


...CINEMA
Matérias Especiais # 2- Adaptações (parte 1). Dos livros paras as telas.
Por Marlon Fonseca




            Expediente usado nos cinemas desde os primórdios a adaptação de um livro para o cinema não é algo fácil, tendo ao longo dos anos, apresentado resultado dos mais variados possíveis.

            Apesar de um filme ter como pedra fundamental um roteiro escrito a diferença entre filme e livro é clara e inequívoca e ao se fazer uma adaptação de uma obra literária, certos obstáculos são inevitáveis de transpor.

Começando pela essência da história. Em qualquer tipo de adaptação não há a necessidade absoluta de se transpor ás telas todo o conteúdo do material adaptado, porém, a sua essência é fundamental. História, personagens e suas motivações, personalidade e nuances, situações importantes devem ser transportadas da melhor maneira possível. Não necessariamente de forma rigidamente fiel, literal, mas que também não a descaracterize completamente.

Paralelamente deve se decidir pelo enfoque que será dada a obra e a forma de como será feito. Que aspectos da história serão contados, a forma de como isto acontecerá, os temas e situações e de como  estes serão apresentados na tela.

Por muitas das vezes e por serem tipos de obras diferentes, há a necessidade de proceder com “cortes” ou modificações para melhor se adequar ao formato. Personagens e algumas situações por muitas das vezes não se faz presente na versão das telas e tal fato é perfeitamente aceitável. Logicamente, se feito de forma competente e que não se perca os principais: essência e compreensão da obra. Em o Advogado do Diabo, por exemplo, o final do filme é completamente diferente do livro, mas se manteve a mensagem final.
A “visualização” da obra também é importante e em muitos casos difícil de alcançar. Transformar paisagens, lugares, aspectos físicos dos personagens, etc em imagens, cenário e figurino pode ser uma tarefa árdua.
Passaremos agora a exemplificar todo o falado com alguns exemplos práticos. Primeiramente no tocante às adaptações bem sucedidas.

No Cenas de Cinema # 4 fora mencionado o trunfo que Peter Jackson alcançou adaptando a complexa obra de J.R.R tolkiem “Senhor dos Anéis”. Considerada “infilmável” por muitos em razão de toda a grandiosidade de sua trama, excesso de detalhamento de toda a Terra Média e grande número de personagens importantes e complexos, Jackson (que roteirizou e dirigiu os três filmes) acertou em todos os aspectos. O resultado foi uma obra que, assim como nos livros, nos apresenta um mundo extremamente rico e belo não somente nas paisagens exuberantes, mas principalmente nas mensagens que ele passa. O aspecto principal da obra literária, sua alma, sua mensagem se fez presente de forma intacta no cinema.

A Terra média de Tolkein ganhou vida em Senhor dos Anéis


A adaptação da obra clássica de Bran Stoker “Drácula” feita pelo excelente Francis Ford Copolla também merece destaque. A história no livro é todo montado como se fosse uma colação dos diários dos personagens contando sob seus pontos de vista os sinistros acontecimentos em sua volta. A adaptação cinematográfica roteirizada por James V. Hart, por motivos acertados, condensou e transformou tais cartas em forma de um roteiro mais “tradicional” e fez um excelente filme mantendo situações, personagens, ou seja, a essência, de forma correta. O resultado foi excelente: um filme sinistro, romântico e surpreendente tal qual o livro.

Em algumas situações (um pouco mais raras) somos surpreendidos com filmes melhores até do que os livros que o inspiraram. Isso ocorre principalmente pela habilidade do roteirista que consegue cortar fatos irrelevantes conseguindo alcançar uma obra com ritmo melhor e mais agradável. Exemplo é o cult Clube da Luta, o ritmo e o final do filme são mais impactantes no filme do que no livro.


Clube da luta filme...


... e livro: ambos impactantes ao seu modo
























Já em outras, há a expansão da obra ou mesmo uma leve adaptação ocasionando resultados diferenciados entre livro e filme. No primeiro caso geralmente se dá através de adaptações de contos. Por serem menores, os roteiristas pegam a idéia e a ampliam como os contos de Isaac Asimov que geraram os filmes Eu robô e I.A – Inteligência Artificial. Como exemplo do segundo caso podemos citar os filmes de James Bond,  personagem originário das páginas dos livros de Ian Flamming, que não são baseados em nenhum de seus livros. No âmbito Nacional temos o triunfante Tropa de Elite que baseado e roteirizado pelos mesmos autores do livro também excelente Elite da Tropa temos obras que se distanciam, mas também se complementam.


Capitão Nascimento não aparece no livro "Elite da Tropa"

 Por fim, existem os casos de filmes que não conseguiram de alguma forma alcançar a qualidade do livro e se apresenta por algum motivo piores ou incompletos. Um exemplo curioso é a adaptação de O código da Vinci o livro de Dan Brown apresenta uma estrutura bem parecida á de um roteiro cinematográfico e é repleto de momentos de tirar o fôlego. A sua adaptação, apesar de extremamente, fiel peca pela surpreendente falta de ritmo. Recentemente a obra de Jorge amado Capitães de Areia sofreu adaptação pouco satisfatória.

Código da Vinci decepcionou pela indesculpável falta de ritmo

Para terminar fica a sugestão de um exercício interessante e enriquecedor para uma melhor verificação de todo o exposto aqui. Escolha um livro que sofreu uma adaptação cinematográfica e o leia. Posteriormente, assista ao filme e faça as suas comparações entre ambos tentando observar os aspectos dessa adaptação.
Vejam como um exemplo uma das cenas mais fantásticas da história do cinema e o trecho que a inspirou:

”(...)Desceram mais, saindo da névoa, e ele pôde enxergar a ilha em toda a sua extensão, de norte para a Sul. Como Regis dissera: coberta de floresta tropical.
No Sul, erguendo-se acima das palmeiras, Grant viu um único tronco, sem folhas, apenas um caule curvo. Em seguida o tronco se moveu, virando-se para encarar os recém-chegados. Grant se deu conta que não era uma árvore.
Ele estava olhando para o pescoço longo, curvo e gracioso de uma criatura enorme, que chegava a mais de quinze metros de altura.
Estava olhando para um dinossauro
— Meu Deus — Ellie disse num sussurro. Todos mantinham os olhos fixos no animal cuja cabeça aparecia por cima das árvores.Em primeiro lugar ela pensou que o dinossauro era extraordinariamente belo. Nos livros eram animais exagerados,desengonçados, mas aquele bicho de pescoço comprido tinha graça e dignidade em seus movimentos. Era ágil: não havia nada de preguiçoso em seu comportamento. O saurópode observou-os atentamente, emitindo depois um som de trombeta, parecido com ode um elefante. Logo depois outra cabeça emergiu da folhagem,seguida de uma terceira e uma quarta.— Meu Deus — Ellie repetiu.Gennaro perdeu a fala. Ele sabia muito bem o que encontraria— há anos — mas de certo modo nunca acreditara que realmente fosse acontecer. O choque o deixou mudo. O poder assombroso da nova tecnologia genética, que considerava antes apenas um montede palavras de um discurso meio batido, repentinamente desabou sobre ele com força total. Os animais eram tão grandes! Enormes!Maiores do que uma casa! E havia muitos! Dinossauros de verdade, puxa vida! E reais, o que mais poderiam querer?E imediatamente pensou: Vamos ganhar uma fortuna com este lugar.Uma fortuna.
Ele rezou a Deus para que a ilha fosse segura. Grant parou no meio do caminho, na encosta do morro, a garoa atingindo o rosto, olhos fixos nos longos pescoços cinzentos acima das palmeiras. Sentia-se tonto, como se o chão faltasse a seus pés. Teve dificuldade em recuperar o fôlego, pois estava olhando para algo que nunca imaginara ver em sua vida.Os animais no meio da névoa eram apatossauros, saurópodes de tamanho médio. Sua mente anuviada começou a fazer associações acadêmicas: herbívoros da América do Norte, do final do período Jurássico, comumente chamados de "brontossauros". Fósseis descobertos por E. D. Cope em Montana, no ano de 1876. Espécimes associados aos estratos da formação Morrison, no Colorado, Utah e Oklahoma. Recentemente Berman e Mclntosh os reclassificaram como diplodocus, baseados na forma do crânio. Tradicionalmente,acreditava-se que o Brontosaurus passava a maior parte do tempo na água rasa, que ajudaria a suportar seu corpo imenso. Embora o animal não estivesse na água, movia-se depressa demais, a cabeça eo pescoço agitando-se por cima das palmeiras de um modo muito ativo...surpreendentemente ativo.
Grant começou a rir(...)”[1]



           
  


[1] CRICHTON, Michael. Parque dos Dinossauros, O. (Jurassic Park, 1991). Editora Best Seller. 7ª Edição. Págs. 105 a 108