quarta-feira, 4 de julho de 2012

...CINEMA. Opiniões #37 - O Espetacular Homem-Aranha


...CINEMA
Opiniões #37 – O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca




           
Depois de um hiato de cinco anos, o carismático e popular Homem-Aranha retorna aos cinemas cercado de mistérios e muita desconfiança por grande parcela do público e fãs. Afinal de contas, este O Espetacular Homem-Aranha tem como proposta reiniciar a franquia e dar nova direção ao personagem nos cinemas.

            Sua história retoma novamente a origem do herói com o órfão adolescente Peter Parker que mora com seus tios Ben e May Parker. Tímido e sem saber ao certo o que ocorreu com seus pais, tem que lidar com os problemas da adolescência. Tudo se complica ainda mais quando ele adquire poderes proporcionais de uma aranha, se envolve com sua colega de escola Gewn Stacy e seu mentor o Dr. Curt Connors se transforma no terrível lagarto. Ciente de que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, Peter se torna o Homem-Aranha para combater o crime. E a verdade sobre seus pais começa a se desvendar.

            O fato mais criticado pelos fãs e espectadores é de o filme recontar novamente a origem do herói. Mas se o objetivo era mesmo dar uma nova direção e renovação ao personagem isso tinha que ser feito. Até por que ela é ligada ao tal mistério envolvendo o sumiço dos pais de Peter.

            Esta versão é uma mistura de inspirações em momentos dos quadrinhos clássicos, do universo ultimate[1]e de novas idéias e liberdades criativas, que, diga-se de passagem, são muitas. Nesse sentido, fica a boa notícia que o importante foi mantido: a essência do personagem.

            Seguindo a cartilha de grandes histórias de origem de super-heróis no cinema como no Superman de Richard Donner e no Batman Begins de Christopher Nolan, por exemplo, a primeira metade do filme dedica-se à apresentação dos personagens, motivações e relacionamentos.

            Neste quesito deve-se destacar que é na origem do herói onde as maiores liberdades criativas são tomadas. Os conhecedores de longa data do personagem irão provavelmente estranhar um pouco este começo, mas no momento em que o personagem aparece trajando o uniforme pela primeira vez tudo faz sentido de forma quase que instantânea.

            O filme vai crescendo aos poucos, começando em um ritmo lento e intimista até o início de sua metade onde ele cresce em ação e ritmo. Há uma mistura equilibrada de drama, comédia e ação como acontece desde sempre nos quadrinhos e “vida” do Homem-Aranha.

            No quesito drama, apesar de extremamente louvável a tentativa de enfoque do filme nesse aspecto, é onde residem algumas irregularidades. Enquanto o casal central é bem explorado, cortesia do diretor Marc Webb[2] que fez um brilhante trabalho em (500) das com ela, não se pode dizer o mesmo da relação entre Peter e Connors e principalmente com a tia May que poderiam ter tido uma atenção um pouco maior no primeiro ato do filme. Mesmo assim, cada personagem é importante, e aqui se adiciona também o Capitão Stacy, na formação do herói que surge. O sacrifício físico e emocional que passa também não foi esquecido.

Além do desaparecimento dos pais de Peter, o conceito de cruzamento de espécies e o fato de a Oscorp[3] estar envolvida neste experimento também é outro aspecto que permeará não só o filme como a franquia daqui para frente.[4]

            Com relação à comédia, nunca abobalhada é bom frisar, o importante e o mais gratificante é ver o aspecto piadista de Parker aflorando ao colocar a máscara e enfrentar o perigo[5]. As seqüências em que descobre seus poderes em uma verdadeira “comédia de erros” foram bem sacadas.

            Já a ação do filme é competente e a atitude louvável de se utilizar mais dublês do que CG´s foi extremamente importante para, ao lado dos quesitos acima elencados, APRSENTAR UM HOMEM-ARANHA EXTREMAMENTE CRÍVEL E PALPÁVEL.

            A utilização do 3D (nativo[6]), conforme o trailer já entregava, é inebriante nas seqüências de deslocamento do personagem e as em primeira pessoa chegam a ser nauseantes.

            Ainda há espaço para o lado aracnídeo do herói, em seus trejeitos e poses e principalmente numa seqüência muito bem sacada nos esgotos.[7] O uniforme, que nas fotos de divulgação parecia ser um problema, se revela muito bonito e funcional.

            Quanto à trilha sonora, a parte orquestrada por James Horner é contida e incidental e agrada. O que não pode se dizer da trilha pop que toca em alguns momentos do filme.[8]

            Mas este universo palpável que aqui se inicia não seria possível ante a um bom elenco. Andrew Garfield encara o peso de interpretar este cheio de nuances Peter Parker. Se alguém ainda duvidava de seu talento dramático, provavelmente por que não assistiu seu desempenho aos excelentes Não me Abandone Jamais e A Rede Social, vai sair do cinema surpreso com sua interpretação arrebatadora. Emma Stone, cada vez mais em ascensão, compõe com autenticidade sua Gwen Stacy[9] e a química com Garfield, essencial para todo o filme, é irretocável[10].

            Rhys Ifans como o Dr. Curt Connors e posterior oponente Lagarto, faz o que pode com seu personagem e o roteiro até tenta imprimir algo no sentido Dr. Jekyll e Mr Hyde, porém seu “plano maligno” é, convenhamos, surpreendentemente bobo.
           
No elenco de apoio, o sumido Denis Leary[11] entrega um ótimo Capitão Stacy, ainda que com pouco de tempo em tela. Os consagrados Martin Sheen e Sally Field adicionam credibilidade como os Tios Bem e May de Peter. O relacionamento de Parker com eles não é muito bem aprofundado, mas os personagens, conforme anteriormente falado, cumprem com seus papéis de formadores de caráter.

O Espetacular Homem-Aranha, portanto, consegue com extrema competência, apresentar esta nova versão do herói para os cinemas. Não é perfeito, possui suas falhas, mas reúne de forma bastante agradável drama, comédia e ação resultando em um filme acima da média.[12] A essência do personagem, sua falibilidade, sua humanidade se mantém intacta e o melhor e mais marcante:  o Homem-Aranha nunca foi tão real.

Cotação:  (5/5 - 9/10)

Ficha técnica: O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, USA, 2012). Ação. Drama. Direção: Marc Webb. Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Martin Sheen, Sally field e Denis Leary. Duração: 136 min.


Observação importante: A não menção á trilogia dirigida por Sam Raimi é proposital, pois o objetivo é analisar aqui O Espetacular Homem-Aranha como filme e adaptação do personagem e não comparar as versões.



[1] Uma adaptação dos personagens Marvel para o século 21.
[2] Web em inglês é teia. Predestinado hein?
[3] As menções á Norman Osborn são até maiores do que se pensava
[4] O game baseado no filme também segue este aspecto
[5] E se o fato de ele se “soltar” sempre que veste o uniforme é atestado desde a sua criação, no filme ele confessa abertamente em uma cena com um garoto em perigo.
[6] Não sabe a diferença entre 3D nativo e convertido? O “Falando de” explilica aqui: http://blogdofalandode.blogspot.com.br/2012/02/tecnologia-2-o-3d-e-suas-possibilidades.html
[7] Não tem como lembrar da fase de Todd Mcfarlane á frente do herói
[8] Principalmente nas partes “adolescentes” de Peter.
[9] Ainda que também tenha sofrido liberdades criativas como a sua função no Oscorp.
[10] Não é surpresa, portanto, que o casal tenha engatado um romance também fora das telas, ainda que ambos estejam agindo com notável discrição quanto ao assunto.
[11] Sues últimos trabalhos no cinema foram as dublagens do personagem diego na, agora quadrilogia, Era do Gelo.
[12] Os aplauso efusivos do público ao final da sessão depões favoravelmente á esta aformação.