...CINEMA
Opiniões #37 – O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing
Spider-Man, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca
Depois de um
hiato de cinco anos, o carismático e popular Homem-Aranha retorna aos cinemas
cercado de mistérios e muita desconfiança por grande parcela do público e fãs. Afinal
de contas, este O Espetacular
Homem-Aranha tem como proposta reiniciar a franquia e dar nova direção ao
personagem nos cinemas.
Sua
história retoma novamente a origem do herói com o órfão adolescente Peter
Parker que mora com seus tios Ben e May Parker. Tímido e sem saber ao certo o
que ocorreu com seus pais, tem que lidar com os problemas da adolescência. Tudo
se complica ainda mais quando ele adquire poderes proporcionais de uma aranha,
se envolve com sua colega de escola Gewn Stacy e seu mentor o Dr. Curt Connors
se transforma no terrível lagarto. Ciente de que “grandes poderes trazem
grandes responsabilidades”, Peter se torna o Homem-Aranha para combater o
crime. E a verdade sobre seus pais começa a se desvendar.
O
fato mais criticado pelos fãs e espectadores é de o filme recontar novamente a
origem do herói. Mas se o objetivo era mesmo dar uma nova direção e renovação
ao personagem isso tinha que ser feito. Até por que ela é ligada ao tal
mistério envolvendo o sumiço dos pais de Peter.
Esta
versão é uma mistura de inspirações em momentos dos quadrinhos clássicos, do
universo ultimate[1]e de
novas idéias e liberdades criativas, que, diga-se de passagem, são muitas.
Nesse sentido, fica a boa notícia que o importante foi mantido: a essência do
personagem.
Seguindo
a cartilha de grandes histórias de origem de super-heróis no cinema como no
Superman de Richard Donner e no Batman Begins de Christopher Nolan, por
exemplo, a primeira metade do filme dedica-se à apresentação dos personagens,
motivações e relacionamentos.
Neste
quesito deve-se destacar que é na origem do herói onde as maiores liberdades
criativas são tomadas. Os conhecedores de longa data do personagem irão
provavelmente estranhar um pouco este começo, mas no momento em que o
personagem aparece trajando o uniforme pela primeira vez tudo faz sentido de
forma quase que instantânea.
O
filme vai crescendo aos poucos, começando em um ritmo lento e intimista até o
início de sua metade onde ele cresce em ação e ritmo. Há uma mistura equilibrada
de drama, comédia e ação como acontece desde sempre nos quadrinhos e “vida” do
Homem-Aranha.
No
quesito drama, apesar de extremamente louvável a tentativa de enfoque do filme
nesse aspecto, é onde residem algumas irregularidades. Enquanto o casal central
é bem explorado, cortesia do diretor Marc Webb[2]
que fez um brilhante trabalho em (500)
das com ela, não se pode dizer o mesmo da relação entre Peter e Connors e
principalmente com a tia May que poderiam ter tido uma atenção um pouco maior
no primeiro ato do filme. Mesmo assim, cada personagem é importante, e aqui se
adiciona também o Capitão Stacy, na formação do herói que surge. O sacrifício
físico e emocional que passa também não foi esquecido.
Além do
desaparecimento dos pais de Peter, o conceito de cruzamento de espécies e o
fato de a Oscorp[3] estar
envolvida neste experimento também é outro aspecto que permeará não só o filme
como a franquia daqui para frente.[4]
Com
relação à comédia, nunca abobalhada é bom frisar, o importante e o mais gratificante
é ver o aspecto piadista de Parker aflorando ao colocar a máscara e enfrentar o
perigo[5].
As seqüências em que descobre seus poderes em uma verdadeira “comédia de erros”
foram bem sacadas.
Já
a ação do filme é competente e a atitude louvável de se utilizar mais dublês do
que CG´s foi extremamente importante para, ao lado dos quesitos acima
elencados, APRSENTAR UM HOMEM-ARANHA EXTREMAMENTE CRÍVEL E PALPÁVEL.
A
utilização do 3D (nativo[6]),
conforme o trailer já entregava, é inebriante nas seqüências de deslocamento do
personagem e as em primeira pessoa chegam a ser nauseantes.
Ainda
há espaço para o lado aracnídeo do herói, em seus trejeitos e poses e
principalmente numa seqüência muito bem sacada nos esgotos.[7] O
uniforme, que nas fotos de divulgação parecia ser um problema, se revela muito
bonito e funcional.
Quanto
à trilha sonora, a parte orquestrada por James Horner é contida e incidental e
agrada. O que não pode se dizer da trilha pop que toca em alguns momentos do filme.[8]
Mas
este universo palpável que aqui se inicia não seria possível ante a um bom
elenco. Andrew Garfield encara o peso de interpretar este cheio de nuances
Peter Parker. Se alguém ainda duvidava de seu talento dramático, provavelmente
por que não assistiu seu desempenho aos excelentes Não me Abandone Jamais e A
Rede Social, vai sair do cinema surpreso com sua interpretação
arrebatadora. Emma Stone, cada vez mais em ascensão, compõe com autenticidade
sua Gwen Stacy[9] e a
química com Garfield, essencial para todo o filme, é irretocável[10].
Rhys
Ifans como o Dr. Curt Connors e posterior oponente Lagarto, faz o que pode com
seu personagem e o roteiro até tenta imprimir algo no sentido Dr. Jekyll e Mr
Hyde, porém seu “plano maligno” é, convenhamos, surpreendentemente bobo.
No elenco de
apoio, o sumido Denis Leary[11]
entrega um ótimo Capitão Stacy, ainda que com pouco de tempo em tela. Os consagrados
Martin Sheen e Sally Field adicionam credibilidade como os Tios Bem e May de
Peter. O relacionamento de Parker com eles não é muito bem aprofundado, mas os
personagens, conforme anteriormente falado, cumprem com seus papéis de
formadores de caráter.
O Espetacular Homem-Aranha, portanto,
consegue com extrema competência, apresentar esta nova versão do herói para os
cinemas. Não é perfeito, possui suas falhas, mas reúne de forma bastante
agradável drama, comédia e ação resultando em um filme acima da média.[12] A
essência do personagem, sua falibilidade, sua humanidade se mantém intacta e o
melhor e mais marcante: o Homem-Aranha
nunca foi tão real.
Cotação: (5/5 - 9/10)
Ficha técnica:
O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, USA, 2012). Ação. Drama. Direção: Marc Webb.
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Martin Sheen, Sally field e
Denis Leary. Duração: 136 min.
Observação
importante: A não menção á trilogia dirigida por Sam Raimi é proposital, pois o
objetivo é analisar aqui O Espetacular
Homem-Aranha como filme e adaptação do personagem e não comparar as
versões.
[1] Uma
adaptação dos personagens Marvel para o século 21.
[2] Web em
inglês é teia. Predestinado hein?
[3] As
menções á Norman Osborn são até maiores do que se pensava
[4] O game
baseado no filme também segue este aspecto
[5] E se o
fato de ele se “soltar” sempre que veste o uniforme é atestado desde a sua
criação, no filme ele confessa abertamente em uma cena com um garoto em perigo.
[6] Não sabe
a diferença entre 3D nativo e convertido? O “Falando de” explilica aqui: http://blogdofalandode.blogspot.com.br/2012/02/tecnologia-2-o-3d-e-suas-possibilidades.html
[7] Não tem
como lembrar da fase de Todd Mcfarlane á frente do herói
[8]
Principalmente nas partes “adolescentes” de Peter.
[9] Ainda
que também tenha sofrido liberdades criativas como a sua função no Oscorp.
[10] Não é
surpresa, portanto, que o casal tenha engatado um romance também fora das
telas, ainda que ambos estejam agindo com notável discrição quanto ao assunto.
[11] Sues
últimos trabalhos no cinema foram as dublagens do personagem diego na, agora
quadrilogia, Era do Gelo.
[12] Os
aplauso efusivos do público ao final da sessão depões favoravelmente á esta
aformação.