sábado, 9 de junho de 2012

...CINEMA. Opiniões #32 - Prometheus


...CINEMA
Opiniões # 32 – Prometheus (Prometheus, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca




          Prometheus marca o retorno de Ridley Scott ao universo de Alien que ele mesmo estabeleceu há mais de 30 anos. Cercado de expectativas e mistérios quanto ao seu desenvolvimento é chegada a hora de conferir o seu resultado e de que forma contribui para a franquia.

     Na trama, um grupo de cientistas e exploradores a bordo da nave Prometheus busca, em um sistema solar distante, pistas sobre as origens da vida. Mas, além disso, podem encontrar algo muito perigoso.

Agindo ao mesmo tempo de forma independente e como um prelúdio para toda a franquia Alien, a história é interessante e possui muito mais ligação com o universo dos seres xenomórficos do que se suponha.

            O primeiro aspecto do filme que se destaca é a sua escala grandiosa. Cenários, figurinos, efeitos especiais de altíssima qualidade e que compõem com extrema competência o clima do filme. Na direção de arte, inclusive, é visível a inspiração ao trabalho do designer H.R Giger do Alien original. O fato de contar com o talento e a experiência de Scott na direção aumenta ainda mais o seu pedigree.

            O ritmo do filme é bastante cadenciado, lento, lembrando, neste sentido, os filmes da década de 70 e 80 e contrapondo-se aos tempos atuais de produções frenéticas e aceleradas. Tal fato serve ao propósito na formação da atmosfera e ambientação da história e para que as revelações surjam aos poucos tanto para os exploradores como para os espectadores. Aos poucos este ritmo vai crescendo até a chegada do clímax.

            Esse aspecto pode aborrecer parcela do público já desacostumada com esse tipo de ritmo, mas o filme falha mesmo é no desenvolvimento e relacionamento dos personagens. Enquanto a produção deslumbra e o ritmo mantém a ambientação e a curiosidade do espectador, os personagens são muito pouco interessantes. Incomoda, também, o fato de algumas situações que aparentemente teriam importância para a trama serem afastadas sem motivo ou solução aparente e/ou convincente.

            E isso não deixa de ser um pecado perante a qualidade do elenco que faz uma mescla entre atores mais tarimbados e experientes com talentos em ascensão. Curiosamente, o personagem mais bem desenvolvido é o andróide David de Michael Fassbender, seu conflito entre querer ser humano e ao mesmo tempo desprezar a sua raça criadora é tratado de forma sutil, mas contundente, dando ecos, inclusive, de outra obra prima de Scott, Blade Runner. Guy Pearce (irreconhecível para muitos) e Charlize Theron fazem o que podem com seus personagens ainda que padecendo de seu fraco desenvolvimento do roteiro. Noomi Rapace segura bem a responsabilidade de encarar a sua primeira protagonista de um filme de Hollyoowd[1]  e sua religiosidade contrapondo a sua formação científica também é tratada de forma sutil. Idris Elba e Logan-Marshall Green também fazem o que podem com seus personagens.
                       
            Ainda que possua esta falha no desenvolvimento dos personagens, o resultado é um filme bastante competente. Uma produção que mesmo cercado de um aspecto visual fortíssimo, não se escora nela e a utiliza para acertar em sua ambientação.

O uso do 3D surpreende positivamente e, apesar de não ser obrigatório para viver a experiência do filme, ele a amplia em vários momentos soando uma conversão mais competente do que se esperava.

No quesito ligação com a franquia Alien, tal qual o desenvolvimento do filme, ela vai aparecendo aos poucos durante a expedição e ficando mais evidente mais para o final do filme.

Mas o filme, apesar de responder algumas perguntas que estavam soltas desde o primeiro filme, não se engessa no que já fora criado nesse universo e o amplia trazendo novos elementos e personagens importantes como os “engenheiros”[2], além de criar novas perguntas e mistérios.

Assim, Prometheus resulta não somente em um filme que compõe bem a mitologia da série Alien como também em uma ficção científica com vida própria e inegável classe, algo que não se via há algum tempo no gênero.


        Cotação:  (4/5)

        Ficha técnica: Prometheus (Prometheus, USA, 2012). Ficção Científica. Direção: Ridley Scott. Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Guy Pearce, Idris Elba e Logan-MarshallGreen. Duração: 124 min.



[1] Para quem ainda não sabe, ela foi a Lisbeth Salader da trilogia Millenium sueca e participou de Sherlock Holmes 2- O jogo das sombras.
[2] Ridley Scott sempre ao falar deste filme relatava que não só iria explicar quem era o “Space Jockey” (figura emblemática do primeiro filme ainda que tenha aparecido em apenas uma brevem mas marcante, cena) como desenvolve-lo e de fato o fez.