...CINEMA
Opiniões # 32 – Prometheus (Prometheus, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca
Prometheus marca o retorno de Ridley
Scott ao universo de Alien que ele mesmo estabeleceu há mais de 30 anos.
Cercado de expectativas e mistérios quanto ao seu desenvolvimento é chegada a
hora de conferir o seu resultado e de que forma contribui para a franquia.
Na
trama, um grupo de cientistas e exploradores a bordo da nave Prometheus busca,
em um sistema solar distante, pistas sobre as origens da vida. Mas, além disso,
podem encontrar algo muito perigoso.
Agindo ao
mesmo tempo de forma independente e como um prelúdio para toda a franquia
Alien, a história é interessante e possui muito mais ligação com o universo dos
seres xenomórficos do que se suponha.
O
primeiro aspecto do filme que se destaca é a sua escala grandiosa. Cenários,
figurinos, efeitos especiais de altíssima qualidade e que compõem com extrema
competência o clima do filme. Na direção de arte, inclusive, é visível a
inspiração ao trabalho do designer H.R Giger do Alien original. O fato de contar com o talento e a experiência de Scott
na direção aumenta ainda mais o seu pedigree.
O
ritmo do filme é bastante cadenciado, lento, lembrando, neste sentido, os
filmes da década de 70 e 80 e contrapondo-se aos tempos atuais de produções
frenéticas e aceleradas. Tal fato serve ao propósito na formação da atmosfera e
ambientação da história e para que as revelações surjam aos poucos tanto para
os exploradores como para os espectadores. Aos poucos este ritmo vai crescendo
até a chegada do clímax.
Esse
aspecto pode aborrecer parcela do público já desacostumada com esse tipo de ritmo,
mas o filme falha mesmo é no desenvolvimento e relacionamento dos personagens.
Enquanto a produção deslumbra e o ritmo mantém a ambientação e a curiosidade do
espectador, os personagens são muito pouco interessantes. Incomoda, também, o
fato de algumas situações que aparentemente teriam importância para a trama
serem afastadas sem motivo ou solução aparente e/ou convincente.
E
isso não deixa de ser um pecado perante a qualidade do elenco que faz uma
mescla entre atores mais tarimbados e experientes com talentos em ascensão. Curiosamente ,
o personagem mais bem desenvolvido é o andróide David de Michael Fassbender,
seu conflito entre querer ser humano e ao mesmo tempo desprezar a sua raça
criadora é tratado de forma sutil, mas contundente, dando ecos, inclusive, de
outra obra prima de Scott, Blade Runner.
Guy Pearce (irreconhecível para
muitos) e Charlize Theron fazem o que podem com seus personagens ainda que
padecendo de seu fraco desenvolvimento do roteiro. Noomi Rapace segura bem a
responsabilidade de encarar a sua primeira protagonista de um filme de
Hollyoowd[1] e sua religiosidade contrapondo a sua formação científica também é tratada de forma sutil. Idris Elba e Logan-Marshall Green também fazem o que podem com seus personagens.
Ainda
que possua esta falha no desenvolvimento dos personagens, o resultado é um
filme bastante competente. Uma produção que mesmo cercado de um aspecto visual
fortíssimo, não se escora nela e a utiliza para acertar em sua ambientação.
O uso do 3D
surpreende positivamente e, apesar de não ser obrigatório para viver a
experiência do filme, ele a amplia em vários momentos soando uma conversão mais
competente do que se esperava.
No quesito
ligação com a franquia Alien, tal qual o desenvolvimento do filme, ela vai aparecendo
aos poucos durante a expedição e ficando mais evidente mais para o final do
filme.
Mas o filme,
apesar de responder algumas perguntas que estavam soltas desde o primeiro filme,
não se engessa no que já fora criado nesse universo e o amplia trazendo novos
elementos e personagens importantes como os “engenheiros”[2],
além de criar novas perguntas e mistérios.
Assim, Prometheus resulta não somente em um
filme que compõe bem a mitologia da série Alien
como também em uma ficção científica com vida própria e inegável classe, algo
que não se via há algum tempo no gênero.
Cotação: (4/5)
Ficha
técnica: Prometheus (Prometheus, USA, 2012). Ficção Científica. Direção: Ridley
Scott. Elenco: Noomi Rapace,
Michael Fassbender, Charlize Theron, Guy Pearce, Idris Elba e Logan-MarshallGreen.
Duração: 124 min.
[1] Para
quem ainda não sabe, ela foi a Lisbeth Salader da trilogia Millenium sueca e participou de Sherlock
Holmes 2- O jogo das sombras.
[2] Ridley
Scott sempre ao falar deste filme relatava que não só iria explicar quem era o
“Space Jockey” (figura emblemática do primeiro filme ainda que tenha aparecido
em apenas uma brevem mas marcante, cena) como desenvolve-lo e de fato o fez.