Uma
viagem às profundezas do inferno...da mente.
Por Marlon Fonseca
No cenário atual do mercado
de games há uma divisão bem clara na abordagem e tratamento aos jogos. De um
lado os jogos e franquias blockbusters, tipo AAA, de grande orçamento, campanha
de marketing gritante e a preferência pelo espetáculo e grandiloquência. Já do
outro existem os indies, com produção mas contida mas que apostam na narrativa,
no sensorial ou na simplicidade. Poucos conseguem ficar na linha tênue entre
esses estilos de produção. Graças ao esforço da Ninja Theory Hellbalde consegue
transitar entre ambos trazendo o que de melhor cada experiência pode
proporcionar.
Para isso, o estúdio,
conhecido por produções como Heanvely
Sowrd, Ensalved, DMC, cujas características comuns são a captura de
movimentos e expressões faciais elaboradas e bom sistemas de combate, mas com
uma história por trás, optou por fazer do seu novo jogo uma produção simples,
com equipe reduzida e distribuição um pouco mais barata O resultado é uma
pérola que se escora em sua caprichada narrativa mas com um visual estonteante.
Na história, Senua desce ao
inferno da mitológia nórdica em busca da alma de seu amado. Mas lá enfrenta
perigos piores do que imaginava: os seus demônios interiores. O jogo na verdade
é um tratado sobre psicopatia e trata do assunto com propriedade, habilidade e
cuidado. O mais interessante é que o assunto é incluído de forma sutil eu sua
história.[1] Os diálogos são brilhantes
e os lendo sabendo-se do duplo sentido da história se tornam ainda mais
geniais.
Assim, a maior das forças de
Hellblade sem dúvidas é sua narrativa e principalmente da forma que ela é
desenvolvida e integrada em todos os elementos do jogo
O uso do som, com forte
influência na linguagem cinematográfica é um dos seus maiores pilares. Senua
ouve vozes. O tempo todo. E são elas não somente o fio condutor da história
como seus guias e até mesmo servem para atrapalhar seu caminho. Os efeitos
visuais também ajudam na construção de clima e de perturbação no jogador.
Nossa maior batalha acontece em nossa mente |
Os jogos em VR já usam o som
em 3D como elementos de imersão mas Hellblade é o primeiro jogo padrão, fora
dessa tecnologia, que utiliza-se de fato desse expediente (não é a à toa que
assim que se começa o jogo há o aviso de que ele será melhor apreciado em um
headset).
As informações passadas são
o mínimo necessário para se descobrir o que se fazer a seguir além de confundir
e perturbar a mente da protagonista e em alguns casos até mesmo do jogador.
Aliado a isso, o level
design do jogo também demonstra de forma bastante sutil o que fazer e para onde
seguir.
Os gráficos e a direção artística compõem o clima porposto pela narrativa |
Até os atributos do
dualshock servem como elemento de imersão na história. As luzes variam de cor
conforme os momentos da trama. Em um
determinado desafio a vibração do controle será seu único guia.
Na empreitada a personagem
irá se deparar com problemas que devem ser resolvidos para que possa
prosseguir. Esses puzzles brincam também
com a percepção com expedientes como jogos de espelhos, alinhamento de imagens,
uso do foco. Todos são interessantes e também estão e acordo com a subtrama da
psicopatia que o jogo aborda.
A única questão é que alguns
deles depois de um tempo tornam-se repetitivos. Isso acaba por prejudicar um
pouco o ritmo e o desenvolvimento da narrativa.
O jogo oferece momentos macabros e angustiantes. |
Mas Senua também encontra
inimigos que geram batalhas sangrentas. O sistema de combate é mais simples do
que a empresa costuma oferecer mas eficiente à proposta do jogo. Em momentos
mais agudos, porém, a câmera pode atrapalhar um pouquinho.
As batalhas contra os chefes
são brutais e diversificadas o suficiente para sempre manter o interesse e o
impacto. O visual, histórico e habilidades dos vilões auxiliam a manter o
interesse. Já os inimigos comuns possuem pouca variação e ainda que cada um exige
um determinado padrão eles são fáceis de se entender.
Ainda dentro dos aspectos do
jogo existem marcos com runas espalhados nos cenários que, se focados, podem
dar pistas sobre a história e trazer informações interessantes sobre a
mitologia nórdica.
Percepção, foco e a sanidade do jogador são testados a todo momento. |
Os gráficos seguem o padrão
dos jogos AAA dessa geração. Não é exagero afirmar que se trata de um dos
visuais mais bonitos apresentados até agora.
A direção de arte destaca
isso. Cenários detalhados, paisagens belíssimas e variações de cores e
elementos que ajudam a destacar morbidez geral do jogo e seu clima sombrio
intercalado de raros momentos de beleza natural. A modelagem e expressões de
Senua a tronam extremamente vívida (a atuação de Melina Juergen também ajuda
muito nesse quesito).
E acreditem nisso: o jogador
encontrará momentos macabros, perturbadores, angustiante, sufocantes e
questionamentos filosóficos sobre a vida, a morte e a sanidade o tempo todo em
sua jornada.
Por fim, cumpre destacar a
brincadeirinha que a empresa fez com os jogadores com o claro intuito de mexer,
ainda mais, com os seus psicológicos: logo no começo do game há um aviso que
caso se morra muito o save seria apagado o que obrigaria a recomeçar tudo.[2]
Imediatamente a comunidade
gamer reagiu a essa mecânica e em questão de dias descobriu-se que trava-se de
um blefe.
Uma angustiante viagem ao inferno mental |
Nada contra a essa eventual
situação se empregada de fato. Mas transforma-la apenas em um boato bobo acabou
se tronando um expediente desnecessário por parte a empresa que no fundo nada
de positivo acrescentou ao jogo.
Hellblade é uma trabalho
primoroso da Ninja Theory. Uma obra que soube mesclar o deslumbramento de jogos
de grande apelo à narrativa aprofundada, bem trabalhada e intimista dos indies.
obs: após terminar o jogo
não deixe de assistir ao documentário sobre seu desenvolvimento que está
disponível na tela de menu, em sua última opção.
Prós:
-Narrativa inteligente e jogabilidade
integrada dentro de sua proposta
-Impecável trabalho sobre
distúrbios mentais
-Brilhante uso da linguagem
sonora
-Gráficos e direção de arte
estonteantes
-Informações interessantes
sobre a mitologia nórdica.
Contra:
-Puzzles repetitivos em
alguns momentos
-Divulgação desnecessária de
uma mecânica inexistente.
Nota : 9,5
Ficha Técnica:
Hellblade: Senua´s Sacrifice
Gênero: Ação, Adventure.
Produtora(s) SEGA.
Data de Lançamento: 8 de Agosto de
2017 para PS4 ePC