...CINEMA
Opiniões # 56 - O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, USA, 2012).
Por Marlon Fonseca
Existe
uma linha bastante entre tênue entre o que supomos ser convencional ou
desajustado. Se encaixar na vida, seguir padrões considerados normais e/ ou
aceitáveis pode ser algo dificultoso ou tortuoso para determinadas pessoas.
O
caminho para se encontrar no mundo é diferente para todos. Para uns ele chega
facilmente. Para outros vem através de curvas sinuosas e inesperadas. Uns
desistem de encontrá-lo, outros fingem já ter encontrado, mas vivem em uma
mentira, em uma redoma.
O Lado Bom da Vida é
um daqueles raros filmes que, ao fugir do convencional, do lugar comum,
torna-se único e marcante. Nele, temos a história de Pat (Bradley Cooper) retomando
a vida após oito meses internado em um manicômio. Diagnosticado com transtorno
bipolar, teve um verdadeiro surto após descobrir a traição de sua esposa. Ao
conhecer Tiffany (Jennifer Lawrence), uma viúva que percorreu a ninfomania para
aplacar sua tristeza, ambos passam a desenvolver uma amizade e se ajudar
mutuamente.
Mais
do que uma drama leve ou uma comédia dramática, trata-se de uma verdadeira ode
aos desajustados. Quase todos os personagens, senão todos fogem ao
convencional. Temos um protagonista completamente surtado, seu par que mente,
xinga a torto e a direito mas possui um algo mais a se desvendar, um senhor
viciado em apostas e extremamente supersticioso com manias estranhas para
assistir ao jogo de seu time de futebol americano, uma maníaca por controle que
sufoca seu esforçado marido. Esse casal, interpretado pela sumida Julia Stiles
e Paul Herman, inclusive, mostra o quanto o “convencional” pode ser tão
sufocante quanto uma vida “desajustada”.
Personagens "desajustados" dão o tom. |
Aliás,
todo o filme. Seja na sua estrutura e desenvolvimento que nos mantém sempre
focados, pois não sabemos o que surgirá a seguir, seja nas emoções alternantes
que ele nos passa a cada minuto. As relações entre os personagens são complexas e muito bem trabalhadas. Os diálogos são um deleite de tão inteligentes e bem inspirados. A leveza de como tudo é tratado o torna muito
agradável.
Essa
fuga ao convencional ecoa principalmente no elenco. Bradley Cooper que, ora
alterna papéis de galã ora de comediante, foge do seu próprio convencional com
um personagem mais denso do que aparenta. Seu olhar distante em alguns momentos
é típico de pessoas que passam ou passaram por essas situações e o ator soube
muito bem alternar as emoções e sentimentos de seu personagem. Muito bom também
ver Robert De Niro saindo do seu lugar comum e voltando a entregar uma atuação
brilhante como o pai do protagonista, um senhor cheio de superstições em torno
do seu time de futebol americano. Detalhe para a participação de Chris Tucker,
o comediante falastrão da trilogia A Hora Do Rush surpreendentemente contido e
elegante. Jacki Weaver completa o elenco com chave de ora como a mão do
protagonista.
O casal perfeito mais imperfeito dos últimos tempos |
Mas
o filme é de Jennifer Lawrence. Falar de sua atuação depois de todos os prêmios
que ela conquistou pode ser complicado ou redundante, mas deve ser destacado.
Aos 22 anos, a atriz mostra uma segurança de veterana em uma personagem
extremamente complexa e com nuances. A bela e talentosa atriz dança, xinga,
grita, chora, ri com tamanha intensidade e veracidade que impressiona. Lawrence
e Bradley nos apresentam o casal imperfeito mais perfeito dos últimos tempos.
Méritos
também para o diretor David O. Roussel que pela segunda vez consecutiva emplaca
um filme com indicações para melhor filme, diretor e elenco no Oscar. Não é
pouco.[1]
A
lição que fica é clara. Existe de fato um convencional? É ele o caminho único e
correto para a felicidade? Independente da resposta, todos procuram seu espaço
no mundo. E cada um tem seu caminho para percorrer e acha-lo. Mas o mais
importante: todos possuem um algo a mais a ser desvendado e desenvolvido. Basta querer e correr atrás.
Ficha
técnica: O Lado Bom da Vida (Silver
Linings Playbook, USA, 2012). Comédia. Drama. Direção: David O. Roussel.
Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris
Tucker. Duração: 122 min.
Cotação: Nota 10 para um filme que deixa a lição
que uma nota 5 ás vezes pode ser o suficiente
[1] Ele mesmo que também já foi
considerado um desajustado ante ao infame vídeo no qual vocifera grosserias
para com a atriz Lily Tomlin