sábado, 2 de março de 2013

...CINEMA. Opiniões #56 - O Lado Bom da Vida.


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Opiniões # 56 - O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, USA, 2012).

Por Marlon Fonseca


                Existe uma linha bastante entre tênue entre o que supomos ser convencional ou desajustado. Se encaixar na vida, seguir padrões considerados normais e/ ou aceitáveis pode ser algo dificultoso ou tortuoso para determinadas pessoas.

O caminho para se encontrar no mundo é diferente para todos. Para uns ele chega facilmente. Para outros vem através de curvas sinuosas e inesperadas. Uns desistem de encontrá-lo, outros fingem já ter encontrado, mas vivem em uma mentira, em uma redoma.

O Lado Bom da Vida é um daqueles raros filmes que, ao fugir do convencional, do lugar comum, torna-se único e marcante. Nele, temos a história de Pat (Bradley Cooper) retomando a vida após oito meses internado em um manicômio. Diagnosticado com transtorno bipolar, teve um verdadeiro surto após descobrir a traição de sua esposa. Ao conhecer Tiffany (Jennifer Lawrence), uma viúva que percorreu a ninfomania para aplacar sua tristeza, ambos passam a desenvolver uma amizade e se ajudar mutuamente.

Mais do que uma drama leve ou uma comédia dramática, trata-se de uma verdadeira ode aos desajustados. Quase todos os personagens, senão todos fogem ao convencional. Temos um protagonista completamente surtado, seu par que mente, xinga a torto e a direito mas possui um algo mais a se desvendar, um senhor viciado em apostas e extremamente supersticioso com manias estranhas para assistir ao jogo de seu time de futebol americano, uma maníaca por controle que sufoca seu esforçado marido. Esse casal, interpretado pela sumida Julia Stiles e Paul Herman, inclusive, mostra o quanto o “convencional” pode ser tão sufocante quanto uma vida “desajustada”.
Personagens "desajustados" dão o tom.
  Aliás, todo o filme. Seja na sua estrutura e desenvolvimento que nos mantém sempre focados, pois não sabemos o que surgirá a seguir, seja nas emoções alternantes que ele nos passa a cada minuto. As relações entre os personagens são complexas e muito bem trabalhadas. Os diálogos são um deleite de tão inteligentes e bem inspirados. A leveza de como tudo é tratado o torna muito agradável.

Essa fuga ao convencional ecoa principalmente no elenco. Bradley Cooper que, ora alterna papéis de galã ora de comediante, foge do seu próprio convencional com um personagem mais denso do que aparenta. Seu olhar distante em alguns momentos é típico de pessoas que passam ou passaram por essas situações e o ator soube muito bem alternar as emoções e sentimentos de seu personagem. Muito bom também ver Robert De Niro saindo do seu lugar comum e voltando a entregar uma atuação brilhante como o pai do protagonista, um senhor cheio de superstições em torno do seu time de futebol americano. Detalhe para a participação de Chris Tucker, o comediante falastrão da trilogia A Hora Do Rush surpreendentemente contido e elegante. Jacki Weaver completa o elenco com chave de ora como a mão do protagonista.
O casal perfeito mais imperfeito dos últimos tempos

Mas o filme é de Jennifer Lawrence. Falar de sua atuação depois de todos os prêmios que ela conquistou pode ser complicado ou redundante, mas deve ser destacado. Aos 22 anos, a atriz mostra uma segurança de veterana em uma personagem extremamente complexa e com nuances. A bela e talentosa atriz dança, xinga, grita, chora, ri com tamanha intensidade e veracidade que impressiona. Lawrence e Bradley nos apresentam o casal imperfeito mais perfeito dos últimos tempos.

Méritos também para o diretor David O. Roussel que pela segunda vez consecutiva emplaca um filme com indicações para melhor filme, diretor e elenco no Oscar. Não é pouco.[1]

A lição que fica é clara. Existe de fato um convencional? É ele o caminho único e correto para a felicidade? Independente da resposta, todos procuram seu espaço no mundo. E cada um tem seu caminho para percorrer e acha-lo. Mas o mais importante: todos possuem um algo a mais a ser desvendado e desenvolvido. Basta querer e correr atrás.


Ficha técnica: O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, USA, 2012). Comédia. Drama. Direção: David O. Roussel. Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Chris Tucker. Duração: 122 min.

Cotação: Nota 10 para um filme que deixa a lição que uma nota 5 ás vezes pode ser o suficiente





[1] Ele mesmo que também já foi considerado um desajustado ante ao infame vídeo no qual vocifera grosserias para com a atriz Lily Tomlin