domingo, 26 de março de 2017

Crítica # 97 - Fragmentado

Crítica #97 – Fragmentado (Split, USA, 2016)

Tão multifacetado como o personagem de seu novo longa é o caminho que segue a carreira do diretor e roteirista M. Night Shyamalan. Poucos transitaram intensamente tanto no brilhantismo como no execrável, numa espiral de decadência impressionante. Mas, depois do bom, ainda que com ressalvas, A Visita, ele finalmente volta a acertar.

Na trama, três jovens adolescentes são sequestradas e mantidas em cativeiro e, além do normal desespero de uma situação dessas percebem que seu raptor é dotado de múltiplas personalidades.

Duas grandes características dos melhores trabalhos do diretor estão presentes aqui. A primeira reside num roteiro conciso onde traz informações importantes no decorrer da história que casam harmonicamente no final, não só fazendo sentido, mas trabalhando com o subtexto que propõe de fato a demonstrar.[1] Novamente ele usa da cor, dessa vez amarelo, como um dos elementos e indícios narrativos.[2]

Atuação impecável: as muitas face de Mcavoy


Já o segundo aspecto é na construção eficiente do suspense. Além do citado roteiro, montagem e trilha sonora contida e/ou inexistente auxiliam nesse aspecto. Se não bastasse, nas cenas passadas no cativeiro o uso excessivo de closes fomenta a sensação claustrofóbica da situação. Como um bem-vindo bônus o diretor usa e abusa da simetria, algo que Villeneuve fez também recentemente em A chegada, e que curiosamente, se contrapõe ao caos e desequilíbrio do vilão. Outra referência é uma sequência que homenageia Hitchcock e a mais interessante onde ele, finalmente, se dá o direito de se autocriticar.

Mas nada disso valeria ou teria seu real efeito sem o talento de James Mcavoy. Ele dá um show de composição nas oito personalidades presentes no filme (das 24 que seu personagem possui), cada qual com gestual, olhar, voz e marcas próprias. O mais interessante é que a cada “personagem” que se conhece o espectador consegue diferencia-los exatamente pela composição dispare que cada um possui.
O diretor abusa da simetria

O fato de trazer informações psicológicas e comportamentais através da psicóloga vivida por competência por Betty Buckley enriquece a narrativa e a torna ainda mais interessante.

Trazendo um suspense de primeira com qualidade acima da média, Fragmentado é um novo trunfo na carreira de Shyamalan. Felizmente, dessa vez, a sua personalidade competente foi a predominante.

Nota 9,0




Ficha técnica: Fragmentado (Split, USA, 2016). Direção: M. Night Shyamalan. Suspense. Elenco: James Mcavoy, Betty Buckley, Anya Taylor Joy, Haley Lu Ricardson. Duração: 117min.



OBS: SPOILER!! – O filme em si não traz nenhuma reviravolta surpreendente, mas a cereja do bolo é a cena final que coloca o coloca no universo de Corpo Fechado. Há, inclusive, conversas para um filme juntando o elenco de ambos os filmes.





[1] No caso em questão temos aqui uma ode aos desajustados e um estudo do impacto psicológico do abuso.
[2] Mas esse aspecto vai ficar para ser analisado em outra oportunidade.