Crítica #97 – Fragmentado (Split, USA, 2016)
Tão multifacetado
como o personagem de seu novo longa é o caminho que segue a carreira do diretor
e roteirista M. Night Shyamalan. Poucos transitaram intensamente tanto no
brilhantismo como no execrável, numa espiral de decadência impressionante. Mas,
depois do bom, ainda que com ressalvas, A
Visita, ele finalmente volta a acertar.
Na trama, três
jovens adolescentes são sequestradas e mantidas em cativeiro e, além do normal
desespero de uma situação dessas percebem que seu raptor é dotado de múltiplas
personalidades.
Duas grandes
características dos melhores trabalhos do diretor estão presentes aqui. A
primeira reside num roteiro conciso onde traz informações importantes no decorrer
da história que casam harmonicamente no final, não só fazendo sentido, mas
trabalhando com o subtexto que propõe de fato a demonstrar.[1]
Novamente ele usa da cor, dessa vez amarelo, como um dos elementos e indícios
narrativos.[2]
Atuação impecável: as muitas face de Mcavoy |
Já o segundo
aspecto é na construção eficiente do suspense. Além do citado roteiro, montagem
e trilha sonora contida e/ou inexistente auxiliam nesse aspecto. Se não
bastasse, nas cenas passadas no cativeiro o uso excessivo de closes fomenta a
sensação claustrofóbica da situação. Como um bem-vindo bônus o diretor usa e
abusa da simetria, algo que Villeneuve fez também recentemente em A chegada, e que curiosamente, se
contrapõe ao caos e desequilíbrio do vilão. Outra referência é uma sequência
que homenageia Hitchcock e a mais interessante onde ele, finalmente, se dá o
direito de se autocriticar.
Mas nada disso
valeria ou teria seu real efeito sem o talento de James Mcavoy. Ele dá um show
de composição nas oito personalidades presentes no filme (das 24 que seu
personagem possui), cada qual com gestual, olhar, voz e marcas próprias. O mais
interessante é que a cada “personagem” que se conhece o espectador consegue diferencia-los
exatamente pela composição dispare que cada um possui.
O diretor abusa da simetria |
O fato de
trazer informações psicológicas e comportamentais através da psicóloga vivida
por competência por Betty Buckley enriquece a narrativa e a torna ainda mais
interessante.
Trazendo um
suspense de primeira com qualidade acima da média, Fragmentado é um novo trunfo na carreira de Shyamalan. Felizmente,
dessa vez, a sua personalidade competente foi a predominante.
Nota 9,0
Ficha técnica:
Fragmentado (Split, USA, 2016).
Direção: M. Night Shyamalan. Suspense.
Elenco: James Mcavoy, Betty Buckley, Anya Taylor Joy, Haley Lu Ricardson.
Duração: 117min.
OBS: SPOILER!! – O filme em si não traz
nenhuma reviravolta surpreendente, mas a cereja do bolo é a cena final que
coloca o coloca no universo de Corpo
Fechado. Há, inclusive, conversas para um filme juntando o elenco de ambos
os filmes.